{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Seite 5
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desses moldes, como acontecia em Buenos Aires.
Nesse ínterim, um dos pontos mais debatidos por
Olavo é sobre o descaso com o saneamento da
cidade do Rio de Janeiro.
do cronista, são legítimas e revelam o avanço de
uma nação, como no relatado tumulto durante as
eleições no Rio de Janeiro em fins de 1901:
{...} Aqui houve cinco ou seis cabeças quebradas;
em qualquer capital da Europa haveria cem mortos e
quinhentos feridos. Na América do Norte, uma
eleição é uma rude campanha em que se gastam
milhões de dollars e milhões de balas de Smith-
We sson. Põe em campo, a princípio, a corrupção,
mas afinal a boa causa triunfa, o povo impõe a sua
vontade – e a prova de tudo é para bom fim está em
que as cidades norte-americanas são modelos de
limpeza, de conforto, de higiene e de boa
administração...
{...}
(“Eleições
violentas”,
30.12.1901)
Sobre o capítulo do saneamento, muitas
elucubrações - das mais proveitosas - podem ser
feitas sobre o posicionamento político de Bilac, para
o argumento em prol da proteção e segurança
social, a partir da oferta de melhores condições de
vida à população.
Um dos pontos de culminância dessa
preocupação com o saneamento e a higiene pública
chega na crônica “Reações à vacina” (11.11.1904),
em que se coloca à tela o episódio histórico da
Revolta da Vacina:
Olhando para outra faceta do cronista, convém
ressaltar que dariam um estudo à parte as narrativas
de viagem de Olavo Bilac. Há muito o que se
analisar sobre suas impressões de viajante, em um
exercício literário de quem escreve num átimo, de
prontidão, como um diário contínuo, como se a vida
não fosse vida sem que a escrita o acompanhasse
de perto. Refiro-me, particularmente, à sua viagem
para a Europa em 1904, em que pousou por seis
meses entre as cidades de Lisboa, Paris, Turim,
Gênova, Roma e Florença.
{...} Essa gente tem a sua opinião, - e é preciso que
se respeitem todas as opiniões. Mas o que é
perfeitamente injusto e perfeitamente reprovável, é
que contra essa medida se açule, de modo irritante e
perverso, o ódio da multidão. O regulamento da
vacinação obrigatória vai ser estudado e discutido
por homens competentes; e já esta mesma Notícia
começou ontem a recolher opinião e críticas de
profissionais ilustres. Essas coisas não se podem
estudar nem discutir no meio da rua, aos berros.
Nessas viagens, reúne-se grande acervo cultural
e de reflexões socioculturais de Bilac sobre o Brasil
e sobre o Rio de Janeiro, o que não destoa da
seleta realizada por Álvaro Simões Jr. São essas
viagens que formam boa parte do espírito de Bilac,
o que é bem anotados por ele. É o que se observa
em sua passagem por Turim:
Se houver motins de certa gravidade, a quem caberá
a responsabilidade deles? – Ao governo que
calmamente procura obter sobre o seu regulamento
a opinião da gente que sabe onde tem o nariz? Ou
àqueles que vão logo apelando para a rebelião e
para a desordem? {...] (p. 304)
Outro fato correlato às medidas saneadoras
encontra-se em “O arrasamento do morro do
Castelo”, em que se discute a destruição do morro,
levado a cabo em reforma urbana de 1922. Tudo a
conta de livrar a cidade da alcunha de “Pestópolis”,
como assinala Bilac em “Resistências à
higiene” (13.02.1905). Nesse particular, em “O
Palácio do Congresso” (04.06.1906), o cronista
destaca a atuação de expoentes da política e da
história carioca:
Ainda há poucas horas, na Pinacoteca da Academia
de Ciências de Turim, diante de uma Virgem de
Giovanni Bassi, diante de um Felipe IV de Velázquez,
diante da Danaé de Veronese e do S. Jerônimo de
Ribera, passei minutos de vida espiritual que
valeram mais do que anos de vida animal. (“Em
Turim”, 20.07.1904, p. 270)
Sinto, em particular, que voltarei algumas vezes
a essas narrativas de viagem de Bilac. O processo
de leitura e estudo de uma obra, empreendida por
um crítico literário, resulta, infindáveis vezes, em
mais pesquisas. E o sabor da descoberta agrega
significados ao já escrito. Foi com surpresa que, em
breve consulta na rede, encontramos o livro
Viagens , de Olavo Bilac, composto de uma série de
poemas provavelmente inspirados por suas
experiências de viajante. Escusado dizer que
Viagens merece nova leitura a partir do que as
próprias narrativas do viajante Bilac sugerem, para
amplitude dos significados de sua poética.
{...} Se, nestes últimos quatro anos, de abençoado e
espantoso progresso, o Brasil houvesse prestado o
ouvido e dado atenção ao apavorado clamor dessas
Cassandras, nada se teria feito. Lauro Müller não
teria realizado a obra benemérita da construção do
porto e da radiante Avenida Central; Pereira Passos
não teria transformado a velha cidade imunda numa
capital esplêndida; e Osvaldo Cruz não teria tirado de
cima de nós o espantalho, o terror, o pesadelo da
febre amarela! {...} (p. 387) [grifos meus]
Outras comparações com o modelo de vida
europeu ou norte-americano são exemplos de
idealizações de Bilac sobre a nação, por vezes em
flagrante contradição. Tal como acontece com o uso
da violência e da força, que, segundo a fina ironia
{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018
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Deixo, antecipadamente, sugestão para que seja
compilada obra sobre as narrativas de viagem de
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