{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Page 4

{ } {crítica literária} O LAVO B ILAC : O CRONISTA R EGISTRO { CRÔNICAS } | O LAVO B ILAC | O RG . A LVARO S ANTOS S IMÕES J R . | E DITORA U NICAMP | 2011 {} R AFAEL V OIGT 440 crônicas de Olavo Bilac, publicadas no jornal A Notícia {RJ}, entre os anos 1900 e 1908, estão republicadas na obra Registro: crônicas da Belle Époque carioca {2011, Editora da Unicamp}, em trabalho de pesquisa, catalogação, transcrição, revisão e organização de Alvaro Santos Simões Jr., professor de literatura brasileira na Unesp. Dentro do largo quadro social estampado por Bilac da capital federal de seu tempo, é possível conectar as crônicas com a contemporaneidade. Salta aos olhos, por exemplo, a relação da atual e desastrosa intervenção militar no Rio de Janeiro e sua similitude com o fio histórico da denúncia de Bilac sobre a inoperância da polícia em “População ignorada” (1902): Simões Jr. é extremamente claro ao apontar o objetivo principal dessa antologia de crônicas de Bilac: “documentar o posicionamento do cronista diante do processo de modernização por que passava o Rio de Janeiro no início do século XX” (p. 36). Ou por má organização da polícia central, ou por deficiência de pessoal na brigada policial, o que está na consciência de todos é que o Rio de Janeiro não tem policiamento. E como “sociedade civilizada ” quer dizer essencialmente “cidade policiada ”, deixemo- nos de lamentações estéreis. (p. 128) A diversidade de temas é uma característica própria dos cronistas, “filhos de Cronos” , em particular quando se sabe que a coluna “Registro”, no jornal A Notícia , se alimentava de crônica diária. Trata-se de diversidade difícil até mesmo de ser catalogada, por mais que haja um critério na seleção das crônicas. Como instrumentos valiosos de pesquisa, há cuidadosos índices onomástico e remissivo ao final da edição preparada pela Editora da Unicamp. Ao cobrir boa parte do período da primeira década do século 20, as crônicas de Bilac registram um tempo em que se propõem questões prementes de vários setores da vida brasileira, especialmente da ótica de quem vivia e participava da imprensa carioca. Rio de Janeiro (ou Sebastianópolis, como às vezes é nomeada pelo cronista) abastece de temas as crônicas de Bilac. Se por um lado o valor histórico dessas crônicas está no registro da formação e modernização da cidade, como bem acentua o professor Alvaro Simões Jr.; por outro, nota-se que essa modernização se deu diante de quadro social fartamente documentado pelo cronista, composto de crescimento urbano descontrolado, pobreza, falta de saneamento básico, incluindo precário abastecimento de água. {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018 No espaço dessa crítica, seria inútil e contraproducente esmiuçar todos os assuntos abordados por Olavo Bilac em Registro . O modelo de vida parisiense, símbolo da Belle Époque , aparece aqui ou ali nas crônicas, seja pela comparação do Rio de Janeiro com a capital francesa, seja por meio da possibilidade de na América do Sul se instalar uma capital dentro {4}