{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Page 21
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enublava-lhe o espírito, para bem da poesia que lhe deve
mais de uma elegia comovente.
}
prosador como poeta, pode-se afirmar, pelo que
deixou ver e entrever, quanto se devia esperar dele,
alguns anos mais.
Como poeta humorístico, Azevedo ocupa um lugar
muito distinto. A viveza, a originalidade, o chiste, o
humour dos versos deste gênero são notáveis. Nos
Boêmios , se pusermos de parte o assunto e a forma,
acha-se em Azevedo um pouco daquela versificação de
Diniz, não na admirável cantata de Dido, mas no gracioso
poema do Hyssope . Azevedo metrificava ás vezes mal,
tem versos incorretos, que havia de emendar sem
dúvida, mas em geral tinha um verso cheio de harmonia
e naturalidade, muitas vezes numeroso, muitíssimas
eloquente.
O que deixamos dito de Azevedo podia ser
desenvolvido em muitas páginas, mas resumo
completamente o nosso pensamento. Em tão curta
idade, o poeta da Lira dos Vinte Anos deixou
documentos valiosíssimos de um talento robusto e de
uma imaginação vigorosa. Avalie-se por aí o que viria a
ser quando tivesse desenvolvido todos os seus
recursos. Diz-nos ele que sonhava, para o teatro, uma
reunião de Shakespeare, Calderón e Eurípedes, como
necessária à reforma do gosto da arte. Um consórcio
de elementos diversos, revestindo a própria
individualidade, tal era a expressão de seu talento.
Ensaiou-se na prosa, e escreveu muito. Era
frequentemente difuso e confuso; faltava-lhe precisão e
concisão. Tinha os defeitos próprios das estreias, mesmo
brilhante como eram as dele. Procurava a abundância e
caía no excesso. A ideia lutava-lhe com a pena, e a
erudição dominava a reflexão. Mas se não era tão
{} revisado a partir do texto publicado no Diário do Rio de Janeiro , em
26 de junho de 1866, na seção “Semana Literária”, disponível na
Hemeroteca Digital Brasileira (Biblioteca Nacional). No texto original, não
há título, apenas o nome da seção anteriormente mencionada.
A EDITORA C ARAMBAIA LANÇARÁ , EM AGOSTO , UMA NOVA EDIÇÃO DE D OM C ASMURRO , DE M ACHADO DE A SSIS .
E STUDOS SOBRE M ACHADO DE A SSIS
Um mestre na periferia do
capitalismo {ensaios}
Machado de Assis: impostura
e realismo {ensaios}
_John Gledson
_Roberto Schwarz
_ Trad. Fernando Py
_Editora 34
_Companhia das Letras
_2000 {1ª edição}
{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018
_1991 {1ª edição}
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