Umbanda Saravá Set. 2019 | Page 25

É, eles nos davam chibatadas se não andássemos na velocidade que eles queriam. Aquilo me enfurecia.

Uma casa grande surgiu no meio da mata após longa caminhada. Era ali que viveria por muitos e muitos anos.

O trabalho no canavial era duro, cansativo e dava vontade de morrer. Mas, aos 12 anos de vida, a Sinhá chamou a vó para ajudar na cozinha, e foi quando minha vida começou a melhorar.

A senhora moça, filha da Sinhá, gostava de mim e me mostrava tudo que tinha na casa, mas meu lugar era a cozinha, e foi lá que aprendi a fazer tudo de que mais gostava.

A vida preparando arroz e feijão e pratos mais elaborados dava para a vó a sensação de que podia mostrar minhas habilidades para o mundo.

O ato de cozinhar cada vez melhor e com mais amor deixava a vó animada.

A vó adicionava novos temperos e adaptava ingredientes africanos e indígenas às preparações dos senhores da casa grande.

Dentro da mãe escravidão, a cozinha era o espaço menos hostil e, para adoçar um pouco a vida, a vó preparava manjar, doces, tortas, baba de moça, suspiro. sonhos e teta de nega.

Os negros não tinham acesso a todas as comidas. Para nós eram dadas as vísceras, os rabos, a orelha, as patas e a barriga de boi. Os escravos tinham acesso fácil também à mandioca, ao café, ao milho e ao açúcar.

Com isso, na cozinha era só festa. Eu e minhas irmãs fazíamos: mocotó, feijoada, barreado, quindim, canjica, pirão de mandioca com charque, entre outros pratos.

Na senzala, os escravos sempre à espreita. Toda vez que dava, eu levava o comida que sobrava da casa grande para eles. A alegria era contagiante, principalmente das crianças, que adoravam experimentar as guloseimas que a vó preparava.

A vó usava a criatividade, substituía os alimentos, e não era que ficava bom?! Se não tinha inhame, usava mandioca, trocava melancia por abacate, sorgo por milho e, sim, o povo branco ficava feliz.

A base da comida dos escravos era a polenta grosseira feita de fubá sem sal, o mungunzá, a canjica, a pamonha e o cuscuz. O azeite de dendê também foi criação dos negros.

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