4 ESPECIAL VERÃO: COIMBRA EM FÉRIAS
12 DE JULHO DE 2005
Desporto e voluntariado animam o Verão
FRANCISCA MOREIRA
Aproxima–se a passos
largos o período do ano
mais aguardado pelos
estudantes: as férias.
Apesar de perder
grande parte da sua
população estudantil,
Coimbra desenvolve
nesta época diversos
programas de ocupação
dos tempos livres
Ana Bela Ferreira
Diana do Mar
Agora que os estudantes se despe-
dem dos exames, muitos são os que
também dizem adeus à cidade.
Coimbra fica assim mais deserta e
perde a atmosfera académica a que
está habituada durante o resto do
ano. O mês de Agosto revela uma
cidade cheia de espaços vazios:
ruas, cafés, cinemas, discotecas an-
seiam pelo regresso dos estudantes e
pela agitação que estes trazem a
Coimbra.
A pensar em todos os que vivem
ou decidem passar as férias na cida-
de foram desenvolvidas várias ini-
ciativas que têm como principais
objectivos a ocupação de tempos li-
vres e o combate ao sedentarismo.
Promovidos pela Câmara Municipal
de Coimbra (CMC) e pelo Instituto
Português da Juventude (IPJ) estes
projectos estão à disposição dos jo-
vens desde o início deste mês.
“Coimbra Jovem em Acção” sur-
ge pela primeira vez no distrito de
Coimbra e é “um dos programas
mais importantes da actual verea-
ção”, segundo o assessor do Pelouro
do Desporto e da Juventude da
CMC, Nuno Prata. Num regime de
20 voluntários em cada turno, os jo-
vens vão estar junto dos responsá-
veis do departamento de ambiente e
qualidade de vida e do departamen-
to do desporto, a realizar campanhas
de sensibilização do ponto de vista
ecológico e recolha selectiva de lixo
pela cidade. Esta acção decorre até
ao dia 20 de Setembro, sendo inter-
rompida durante o mês de Agosto.
A incerteza dos resultados da di-
vulgação e dos níveis de adesão
conduziu a uma fixação de vagas re-
duzida, na medida em que este é
“um projecto teste”, esclarece Nuno
Vazia de estudantes, a Alta Universitária costuma encher-se de turistas durante o Verão
Prata. No entanto, verificaram–se
“imensas inscrições” e, por isso,
“foi necessário retirar algumas pes-
soas e passá–las para outros turnos”.
Em caso de continuidade, Nuno
Prata perspectiva para o próximo
ano um aumento no número de va-
gas.
A CMC desenvolveu também
uma nova marca que procura identi-
ficar–se com os jovens e com as
pessoas que gostam de praticar des-
porto – “Coimbra a Mexer”. Este
projecto vê a luz do dia no Parque
Verde do Mondego aos sábados, du-
rante este mês e o de Setembro, com
paragem em Agosto. Ao longo de
todo o dia, aqueles que aqui se des-
locarem podem “usufruir de múlti-
plas actividades, como voleibol,
basquetebol e badmington”, esclare-
ce Nuno Prata.
A estrutura montada neste espaço
junto ao rio Mondego oferece ainda,
durante a tarde, várias aulas propor-
cionadas por ginásios da cidade.
Apesar de o final desta campanha
estar agendado para Setembro, exis-
te a possibilidade de esta se prolon-
gar ao longo do ano. “Isto se o tem-
po ajudar”, refere Nuno Prata. O
“Coimbra a Mexer” inscreve–se na
“lógica do combate ao sedentarismo
que é cada vez maior e na promoção
da prática desportiva”.
O pelouro do Desporto ainda lan-
çar um programa de ocupação de
tempos livres em colaboração com
diversos clubes da cidade. Nuno
Prata explica que estas duas entida-
des vão desenvolver “diversas acti-
vidades físicas com os jovens, du-
rante as manhãs”.
Tempo livre por uma causa
A delegação regional do Instituto
Português da Juventude (IPJ) pro-
põe aos jovens com tempo livre que
abracem a missão do voluntariado.
Os jovens entre os 18 e os 30 anos
têm ao seu dispor um programa de
limpeza e vigia de áreas florestais.
O “Projecto das Florestas” teve iní-
cio no passado dia 15 de Junho e
prolonga–se até ao dia 30 de Setem-
bro.
Joana Pinto, voluntária deste pro-
jecto, explica que este foi, durante o
ano passado, um projecto piloto ao
qual apenas aderiram os distritos de
Coimbra e Castelo Branco. Dada a
experiência, a cidade serviu esta ano
de modelo para os distritos do país
envolvidos.
As áreas que se encontram sob a
vigilância dos jovens voluntários de
Coimbra são Vale de Canas, o
Choupal e Arzila. Aqui é da respon-
sabilidade dos intervenientes fazer
inventários das áreas florestais, si-
nalizar e recuperar caminhos flores-
tais, assim como vigiar as áreas pro-
tegidas, limpar e manter os parques
de merendas, entre outras tarefas.
Para levar a bom termo esta missão,
os jovens dispõem de objectos como
bússolas, binóculos, bicicletas, jipes
e camisolas.
Sob o lema “Salva a floresta do
fogo. Tu precisas dela, ela precisa
de ti!”, o projecto lembra que ser
voluntário é “ocupar o tempo na de-
fesa de um património comum”.
Para além deste projecto, Joana
Pinto realça ainda os projectos resi-
dentes do instituto nesta época do
ano. Um é a Associação de Tempos
de Livres (ATL), destinado a jovens
até aos 25 anos, que disponibiliza de
salas de pintura e de música, entre
outras, para dar cor e som aos dias
livres.
Existe ainda uma outra acção “ex-
traordinária” de voluntariado, tal re-
fere Joana Pinto: o Campeonato Na-
cional de Natação de Juvenis.
Decorre entre os dias 22 a 24 e con-
ta com 20 voluntários dos 16 aos 25
anos, que vão ter como principal
função “animar e ajudar o público”.
Das aulas ao trabalho
A Coimbra dos estudantes não
deixa de o ser nem mesmo nas
férias. Muitos são os que ficam
pela cidade “atrelados” a um
emprego necessário para
colmatar as dificuldades
económicas provenientes dos
seus estudos
Depois do intenso período de exames, é
tempo de férias. Enquanto uns partem para a
praia, rumam aos festivais ou se perdem en-
tre malas de viagem, outros entregam os cur-
rículos vitae para aqueles que serão os seus
patrões durante as férias. O regresso a casa é
para muitos difícil ou até mesmo impossível
e “os divididos entre as férias e a pressão das
dificuldades financeiras” relembram que
“nem sempre há a oportunidade de esco-
lher”.
Joana Mota, estudante da Escola Superior
de Educação de Coimbra (ESEC), 20 anos
explica que “este é um período complicado”.
Apesar de trabalhar sempre nas férias, Joana
costumava arranjar um trabalho na Nazaré,
mas este ano a ausência de bolsa de estudo
obrigou-a a iniciar o seu período de trabalho
mais cedo. Joana não tem férias há cerca de
quatro anos e afirma que “é muito cansati-
vo”, mas compreende a importância que o
part–time tem, “uma vez que este condiciona
a continuidade dos estudos”, explica.
Alguns estudantes confessam que o traba-
lho nas férias é recompensador, mas a ausên-
cia dos amigos, da diversão e da família tor-
na as coisas mais complicadas. No entanto,
Isa Dias, estudante de turismo na ESEC ex-
plica que o motivo que a levou a trabalhar no
período de férias foi “a vontade de ocupar o
tempo, ganhando ao mesmo tempo algum di-
nheiro necessário” para as suas próprias des-
pesas. Em relação à opinião dos seus pais so-
bre esta questão, a estudante de Castro
D’Aire refere que eles acham que ela deve
trabalhar, apesar de sentirem a sua falta.
Segundo os estudantes, as férias já repre-
sentavam uma oportunidade para ganhar al-
gum dinheiro e, ao mesmo tempo, poderiam
estar junto da família e dos amigos na medi-
da do possível, mesmo antes da entrada no
ensino superior. A universidade condicionou
muitos estudantes financeiramente obrigan-
do–os a conciliar um trabalho com as aulas.
Carolina Vieira, estudante da Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da Uni-
versidade de Coimbra, esclarece que já traba-
lha desde os 15 anos, mas que agora é dife-
rente. Desde que ingressou na universidade
“as coisas complicaram–se”. Oriunda de
Soure, a estudante explica que vai todos os
dias a casa, uma vez que não possui casa em
Coimbra. Carolina refere que tem “saudades
da família” e compreende as queixas da mãe
em relação ao facto de a estudante só ir a ca-
sa dormir, mas sempre que pode tenta arran-
jar um tempo para estar com ela. Carolina
Vieira explica que “é bastante triste ter de
prescindir das férias com a família”.