OUTROS RUMOS
ESPECIAL VERÃO
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12 DE JULHO DE 2005
Uma vila nortenha com história
Monção conta com mais de quatro milénios de existência
A dois passos da
fronteira com Espanha,
a vila oferece uma
história milenar,
marcada pela passagem
de vários povos
Cláudio Vaz
Não é necessário ir tão longe pa-
ra refrescar a cabeça e conhecer lu-
gares fabulosos e aconchegantes
neste Portugal de vários lugares tí-
picos. Com isto o leitor pode con-
cordar, mas seria necessário um ar-
gumento
significativo
para
convencer alguém a viajar algumas
centenas de quilómetros só para
chegar a uma vilazinha de que mal
ouvimos falar e que nem faz parte
dos grandes e importantes circuitos
nacionais de turismo.
Mas como não se viaja só pelo
prazer de ver, mas também pelo
prazer de contar, falo aqui sobre
uma vila longe de Coimbra e das di-
mensões do espaço do quotidiano
de muitas pessoas, chamada Mon-
ção, no norte minhoto português.
Uma vila com características bem
locais, com muita história e paisa-
gens dignas das demais terras que
contornam o território lusitano irri-
gado pelas águas do rio Minho.
Depois da sua fundação em 2104
a.C. pelos babilónios (ou iberos),
Monção ainda foi terra de povos co-
CLÁUDIO VAZ
mo Celtas e Suevos
que a baptizaram com
outros nomes como
“Orosion”, nome gre-
go para Monte Santo,
e, mais tarde (em 410
d. C.), recebeu o no-
me de “Mons San-
ctus”, do latim, na al-
tura em que os
romanos foram ex-
pulsos da península.
Mas foi D. Afonso III
que a refundou com o
nome de Monção, de-
pois de ter extinguido
as vilas vizinhas de
Badim e Penha da
Rainha do local ac-
tual, que só em 1258
veio a receber estatu-
to oficial de vila.
Terra dos pratos de
lampreia, do forte e
da fileira de árvores
de carvalho da avenida das Caldas,
Monção destaca–se também pelo
formato e imponência dos muros
em granito, que me levaram a re-
cordar os paredões das ruas da cida-
de de Cuzco, no Peru, berço da an-
tiga civilização Inca.
Realmente não é necessário ir tão
longe para saber sobre tudo isso,
bastava comprar um bom guia tu-
rístico. Mas, como dizia Blaise Pas-
cal, se a vida fosse um livro, viver e
não viajar seria como se lêssemos
apenas uma página deste livro.
Março 2004
A pequena vila no extremo norte do país assistiu à passagem de séculos de povos e estórias
Informações Úteis
Como lá chegar:
Seguir pela A3 até ao Porto, apanhar aí o IC1 e de-
pois a EN101 até Monção.
A Rede de Expressos tem, pelo menos, duas liga-
ções diárias entre Coimbra e Monção; a estação ferro-
viária mais próxima é Valença, a 17km.
Estadia e restauração:
Albergaria Atlântico, Casa do Sobreiro, Quinta da
Portelinha e Casa de Rodas (turismo de habitação),
Pensão Esteves, Pensão Mané, Residencial Deu–la-
–deu. De 25 a 85 euros por noite.
Privilégio da natureza
CLÁUDIO VAZ.
A conhecer:
Palácio da Brejoeira, Ponte de Mouro, Muralhas de
Monção, Igreja Matriz, Torre de Lapela, Mosteiro de
Longos Vales.
E mais…
Nos meses de Julho e Agosto realizam–se festas po-
pulares um pouco por todo o concelho, e ocorre ainda
um festival internacional de folclore.
Perda de identidade
CLÁUDIO VAZ
A aldeia de Montesinho que dá
nome ao parque natural sofre
com a intrusão de materiais
modernos de construção
Cercada por florestas e
banhada por um rio,
Esposende é uma antiga vila de
pescadores com um sossegado
ar de pequena cidade
A 50 quilómetros do Porto, descansa uma
antiga vila do litoral norte português, agora já
cidade, graças aos esforços do seu patrono D.
Sebastião, que conseguiu criar a tão esperada
autonomia do concelho de Barcelos. Um lugar
único que guarda ainda a herança da cultura
pesqueira dos que viviam e ainda lutam para
viver do mar.
“Um privilégio da natureza” - diz uma pla-
ca de boas vindas à cidade. E realmente não
deixa de ser. O litoral oferece, além de um
bom lugar para banhos de mar nos meses de
Verão, uma boa posição geográfica para a prá-
tica do surf. Esposende ainda apresenta peque-
nas ruas de calçada dignas de um passado de
heranças romanas, com capelas antigas, casas
de praia e um imponente farol, um dos cartões
postais da cidade. Comecei a interessar–me
pelo lugar e tentar viajar na história quando,
de repente, fui apresentado a mais uma das cu-
riosidades desta cidadezinha.
Vida nocturna:
Bar BJ Dois, Bar Só Veneno
Exactamente ao meio-dia, fui surpreendido
por uma badalada que vinha dos sinos de uma
igreja, situada na praça central. Um badalar vi-
brante com toques agudos e altos que pode-
riam assustar qualquer viajante desinformado,
como eu. E o engraçado era que, mesmo com
a barulheira que parecia querer chamar a aten-
ção de toda a região do Minho, estavam ape-
nas a convocar algumas senhoras que estavam
ali à espera do chamado para comungar a sua
fé.
Deixei–me mais uma vez contagiar pelas
ruas da cidade até a hora do jantar, quando fui
em busca do famoso prato de mariscos, típico
do lugar. CV Novembro 2003
Saindo de Bragança e tomando a estrada na-
cional 103-7, corte à esquerda antes de atingir
a aldeia fronteiriça do Portelo e siga pela (ex-
celente) estrada florestal. Prepare–se pois a
subida começa a ser puxada. O isolamento é
total e o silêncio começa a ser perturbador.
O clímax é atingido quando vislumbramos
desde o topo da serra, quase a querer escon-
der-se, a aldeia de Montesinho. O local é habi-
tado por cerca de 40 pessoas e a escola primá-
ria fechou há três anos. Apesar de manter o seu
aspecto primitivo de construção (granito e lou-
sa), nota–se nalgumas casas a utilização do ti-
jolo, quer seja na sua construção ou no seu
alargamento. O ambiente é agradável e já exis-
tem valências que permitem uma visita mais
prolongada com a existência de casas para alu-
gar. Mas algumas conservam o traço da tipici-
dade apenas no telhado de lousa...
As origens sobre as gentes e o local estão
mal documentadas, mas especula–se que
Montesinho surgiu como um lugar de explora-
ção mineira ou como suporte de exploração
agrícola desde os romanos.
Posteriormente, com as lutas da indepen-
dência nacional com o Reino de Leão, a zona
ficou escassamente povoada. Daí o esforço de
repovoamento dos primeiros reis, principal-
mente D. Sancho I e D. Dinis. Mas esta res-
ponsabilidade deve também atribuir–se à ac-
ção dos mosteiros: o de Meirola e o de S.
Martinho de Castanheira, ambos cistercienses,
cabendo ao primeiro o repovoamento de Mon-
tesinho no tempo de D. Sancho II. JMC
Outubro 2003
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