10 ESPECIAL VERÃO: OUTROS RUMOS
12 DE JULHO DE 2005
O principal cartão postal do Algarve
Um dos mais visitados pontos turísticos foi o local de partida para os Descobrimentos
Lagos, a cidade que
serviu de partida para
as embarcações do
Infante D.Henrique, é
actualmente um dos
destinos mais
procurados para férias
no litoral algarvio
Cláudio Vaz
Um dos destinos mais belos do Al-
garve tem hoje motivos de sobra na
sua história e geografia para ser a ci-
dade mais cosmopolita e visitada do
sul do país. No passado, Lagos serviu
de portal para as embarcações do In-
fante D.Henrique, “O Navegador”,
que apostou na navegação para am-
pliar o circuito comercial português.
A ideia veio transformar o porto de
Lagos num dos pontos mais impor-
tantes da época, cruzamento de mui-
tas rotas e culturas internacionais.
Perfeita para a prática de desportos
náuticos, a cidade abriga ainda algu-
mas das praias mais paradisíacas de
toda a Península Ibérica, outro factor
importante para entender porque é
que os portugueses sempre voltavam
para Lagos depois de desbravarem os
mares.
Ao chegar à cidade, conheci a ave-
nida principal, rodeada por palmeiras
onde se espalham cafés e hotéis de al-
ta qualidade, em contraste com a agi-
tação das calçadas, repletas de pes-
soas de todas as idades e línguas,
transformando todo o lugar numa
verdadeira “Babel” plana e ensolara-
da. No meio disto tudo, Olívia, de
apenas quatro anos de idade, e a mãe,
Frida, ambas de origem sueca, a cor-
rerem para a estação de comboio. A
CLÁUDIO VAZ
primeira vez que as encontrei foi na
ilha de Armona, onde ajudei a desem-
barcar o carrinho de bebé de Olívia.
Amigas que, curiosamente, eu viria a
encontrar mais vezes, em dias e lo-
cais diferentes, sempre por acaso.
Atracções como a Ponta da Pieda-
de são alguns dos motivos para uma
visita a esta cidade: a chegada à pon-
ta é magnífica. Através de uma pe-
quena estrada, a terra termina de re-
pente, num penhasco gigantesco onde
é possível aproximar–se do mar e
desfrutar de vistas espectaculares.
Recifes, grutas e cavernas surgem das
profundezas azuis. Dali se vêem ro-
chedos e paredões, que contornavam
a costa.
A herança árabe
Eles já não estão lá, mas deixaram,
em cinco séculos de ocupação, um le-
gado cultural e arquitectónico de en-
cher os olhos a qualquer viajante. Ca-
minhando pelas vilas e praias do
litoral algarvio, antiga colónia árabe,
é fácil perguntar: “Afinal, estamos
mesmo em Portugal?”.
Após a derrota dos reis visigodos,
no sul da Península Ibérica, liderada
pelo comandante mouro Tarik Ibn
Zyad, em meados do ano 711, os ára-
bes começaram a instalar–se na re-
gião e ali estabeleceram o seu comér-
cio juntamente com a sua tradição,
hábitos alimentares, cultos religiosos
e arquitectura, semelhante às constru-
ções das ilhas de Mikonos e Santori-
ni, na Grécia. Após muitas batalhas, o
Algarve foi reclamado pelos cristãos
em 1249, passando a fazer parte do
reino português.
Com o passar dos anos, a região
transformou–se numa das estâncias
mais procuradas da Europa, princi-
palmente no Verão, época em que as
praias algarvias se enchem de turistas
O extremo sudeste
A arquitectura de origem muçulmana resiste na paisagem algarvia
estrangeiros, oriundos de todos os
cantos do velho continente e do mun-
do. Línguas, estilos e rostos mistu-
ram–se nas areias e nas calçadas das
praias. Com este grande fluxo de tu-
ristas, a mão–de–obra para o sector
terciário chega a ser escassa em algu-
mas vilas, o que pode ser uma boa
opção para quem gosta de juntar al-
gum dinheiro nas férias enquanto tra-
balha num lugar diferente no Verão.
Junho 2004
Informações Úteis
Como ir:
Rede Expressos – Autocarros diários, com transbor-
do em Lisboa: 18 euros
Comboio – Comboios diários, com três transbordos
Onde ficar:
Parque de Campismo Turiscampo (2,75 euros por
pessoa)
Hotel Tivoli Lagos
Pensão Residência Sol e Praia
Pensão Sol a Sol
Pousada da Juventude de Lagos
CLÁUDIO VAZ.
Pontos turísticos:
Castelo dos governadores, Fortaleza Ponta da Ban-
deira, H om enagem aos Descobrimentos, Infante
D.Henrique, mercado dos escravos, messe militar, mo-
numento aos navegadores portugueses, tríptico alusivo
a Alcácer–Quibir
Vida nocturna:
Bar Alvorada III
Calypso Bar
Discoteca Phoenix
Marina de Lagos
Turismo vs ambiente
Praia, natureza e agitação,
opções interessantes em Vila
Real de Santo António para
quem ainda não sabe para
onde ir nestas férias Durante cinco dias no Algarve,
a “árdua” tarefa de encontrar
a difícil resposta: Porque é que
toda a gente quer ir ao Algarve
no Verão?
Mais um encontro inesperado, logo à chega-
da. Frida e Olívia, a mãe e a filha suecas que
esperavam um comboio para Faro enquanto se
lambuzavam com um gelado. Contaram o que
viram em Vila Real de Santo António como se
fossemos velhos conhecidos.
Após um passeio pelo centro da cidade, fui
conhecer as margens portuguesas do Guadia-
na, que parecem pertencer apenas aos pesca-
dores nativos onde, após uma manhã de linhas
ao mar, fazem ali mesmo as suas refeições, co-
mo se estivessem numa extensão das suas ca-
sas.
Para quem nasceu ali, isto é uma verdade,
pois é o lugar onde eles cresceram e vivem
com os seus vizinhos espanhóis, uma convi-
vência semelhante à dos portugueses do norte,
que tiram do Minho o seu sustento e, da outra
margem, histórias e amizades de toda uma vi-
da.
Um pouco de história: Vila Real de Santo
António surgiu graças aos esforços do Mar-
quês de Pombal, o responsável pela reconstru-
ção de Lisboa após o terramoto de 1755 e que Não foi lá muito difícil. O Algarve visivel-
mente reúne factores essenciais para boa épo-
ca de férias. Um deles é o factor humano. Os
algarvios, já acostumados a receberem muitos
visitantes, proporcionam um acolhimento sim-
pático e aberto, além do ambiente, com belas
praias e paisagens, e de muita gente diferente
para se conhecer. Quando estes elementos se
reúnem num só lugar, a probabilidade de pas-
sar ali bons momentos é bem grande.
Sim, férias para todos, mas… E depois?
Quem por estes lugares passa nem sempre se
apercebe do impacto que está a causar numa
região, social e ecologicamente falando. So-
cialmente, pois o progresso turístico pode ser
demasiado. Línguas estrangeiras em letreiros
e placas de trânsito, contribuição para uma
lenta perda de identidade. E a nível ecológico,
pois um pedaço de papel ou uma lata de cerve-
ja pode não ser uma catástrofe imediata, mas,
com o passar do tempo, este material, abando-
nado no fundo do mar, poderá causar danos ir-
reparáveis (o mais grave é que não estamos a
falar de apenas “uma” lata de cerveja ao mar).
levou progresso à vila, com a construção de
ruas bem ornamentadas e monumentos sum-
ptuosos. Além do centro histórico, as praias
são as maiores atracções do lugar.
A praia de Monte Gordo, por exemplo, é
uma das praias mais procuradas da zona do so-
tavento algarvio. Uma praia para todos os gos-
tos, que guarda, numa das suas extremidades,
uma mata de pinhais silvestres onde se pode
caminhar e respirar o perfume característico
da vegetação. Na outra, a parte mais movi-
mentada, com calçadas extensas e vários
pub´s, restaurantes, bares e esplanadas a céu
aberto. CV
Junho 2004
CLÁUDIO VAZ
Para a questão social, aposta–se na educa -
ção, para o problema ambiental, são criadas
reservas ecológicas para promoverem uma
consciencialização e a conservação destes lu-
gares. Como é o caso do Parque Natural da
Ria Formosa, em Olhão, ponto de passagem
de aves migratórias e berço de uma grande va-
riedade de peixes e plantas locais.
A caminho da ilha de Armona, encontro pe-
la primeira vez as minhas amigas suecas.
Companheiras recém–conhecidas, quase que
inseparáveis que, no meio desta minha passa-
gem pelo Algarve, me ajudaram, através da
amizade e dos seus olhares, a perceber qual o
sentido daquela viagem, nestes outros e dife-
rentes rumos que a vida nos presenteia. CV
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