Turismo | Travel Especial Férias A Cabra | 2006 | Page 10

10 ESPECIAL VERÃO: OUTROS RUMOS 12 DE JULHO DE 2005 O principal cartão postal do Algarve Um dos mais visitados pontos turísticos foi o local de partida para os Descobrimentos Lagos, a cidade que serviu de partida para as embarcações do Infante D.Henrique, é actualmente um dos destinos mais procurados para férias no litoral algarvio Cláudio Vaz Um dos destinos mais belos do Al- garve tem hoje motivos de sobra na sua história e geografia para ser a ci- dade mais cosmopolita e visitada do sul do país. No passado, Lagos serviu de portal para as embarcações do In- fante D.Henrique, “O Navegador”, que apostou na navegação para am- pliar o circuito comercial português. A ideia veio transformar o porto de Lagos num dos pontos mais impor- tantes da época, cruzamento de mui- tas rotas e culturas internacionais. Perfeita para a prática de desportos náuticos, a cidade abriga ainda algu- mas das praias mais paradisíacas de toda a Península Ibérica, outro factor importante para entender porque é que os portugueses sempre voltavam para Lagos depois de desbravarem os mares. Ao chegar à cidade, conheci a ave- nida principal, rodeada por palmeiras onde se espalham cafés e hotéis de al- ta qualidade, em contraste com a agi- tação das calçadas, repletas de pes- soas de todas as idades e línguas, transformando todo o lugar numa verdadeira “Babel” plana e ensolara- da. No meio disto tudo, Olívia, de apenas quatro anos de idade, e a mãe, Frida, ambas de origem sueca, a cor- rerem para a estação de comboio. A CLÁUDIO VAZ primeira vez que as encontrei foi na ilha de Armona, onde ajudei a desem- barcar o carrinho de bebé de Olívia. Amigas que, curiosamente, eu viria a encontrar mais vezes, em dias e lo- cais diferentes, sempre por acaso. Atracções como a Ponta da Pieda- de são alguns dos motivos para uma visita a esta cidade: a chegada à pon- ta é magnífica. Através de uma pe- quena estrada, a terra termina de re- pente, num penhasco gigantesco onde é possível aproximar–se do mar e desfrutar de vistas espectaculares. Recifes, grutas e cavernas surgem das profundezas azuis. Dali se vêem ro- chedos e paredões, que contornavam a costa. A herança árabe Eles já não estão lá, mas deixaram, em cinco séculos de ocupação, um le- gado cultural e arquitectónico de en- cher os olhos a qualquer viajante. Ca- minhando pelas vilas e praias do litoral algarvio, antiga colónia árabe, é fácil perguntar: “Afinal, estamos mesmo em Portugal?”. Após a derrota dos reis visigodos, no sul da Península Ibérica, liderada pelo comandante mouro Tarik Ibn Zyad, em meados do ano 711, os ára- bes começaram a instalar–se na re- gião e ali estabeleceram o seu comér- cio juntamente com a sua tradição, hábitos alimentares, cultos religiosos e arquitectura, semelhante às constru- ções das ilhas de Mikonos e Santori- ni, na Grécia. Após muitas batalhas, o Algarve foi reclamado pelos cristãos em 1249, passando a fazer parte do reino português. Com o passar dos anos, a região transformou–se numa das estâncias mais procuradas da Europa, princi- palmente no Verão, época em que as praias algarvias se enchem de turistas O extremo sudeste A arquitectura de origem muçulmana resiste na paisagem algarvia estrangeiros, oriundos de todos os cantos do velho continente e do mun- do. Línguas, estilos e rostos mistu- ram–se nas areias e nas calçadas das praias. Com este grande fluxo de tu- ristas, a mão–de–obra para o sector terciário chega a ser escassa em algu- mas vilas, o que pode ser uma boa opção para quem gosta de juntar al- gum dinheiro nas férias enquanto tra- balha num lugar diferente no Verão. Junho 2004 Informações Úteis Como ir: Rede Expressos – Autocarros diários, com transbor- do em Lisboa: 18 euros Comboio – Comboios diários, com três transbordos Onde ficar: Parque de Campismo Turiscampo (2,75 euros por pessoa) Hotel Tivoli Lagos Pensão Residência Sol e Praia Pensão Sol a Sol Pousada da Juventude de Lagos CLÁUDIO VAZ. Pontos turísticos: Castelo dos governadores, Fortaleza Ponta da Ban- deira, H om enagem aos Descobrimentos, Infante D.Henrique, mercado dos escravos, messe militar, mo- numento aos navegadores portugueses, tríptico alusivo a Alcácer–Quibir Vida nocturna: Bar Alvorada III Calypso Bar Discoteca Phoenix Marina de Lagos Turismo vs ambiente Praia, natureza e agitação, opções interessantes em Vila Real de Santo António para quem ainda não sabe para onde ir nestas férias Durante cinco dias no Algarve, a “árdua” tarefa de encontrar a difícil resposta: Porque é que toda a gente quer ir ao Algarve no Verão? Mais um encontro inesperado, logo à chega- da. Frida e Olívia, a mãe e a filha suecas que esperavam um comboio para Faro enquanto se lambuzavam com um gelado. Contaram o que viram em Vila Real de Santo António como se fossemos velhos conhecidos. Após um passeio pelo centro da cidade, fui conhecer as margens portuguesas do Guadia- na, que parecem pertencer apenas aos pesca- dores nativos onde, após uma manhã de linhas ao mar, fazem ali mesmo as suas refeições, co- mo se estivessem numa extensão das suas ca- sas. Para quem nasceu ali, isto é uma verdade, pois é o lugar onde eles cresceram e vivem com os seus vizinhos espanhóis, uma convi- vência semelhante à dos portugueses do norte, que tiram do Minho o seu sustento e, da outra margem, histórias e amizades de toda uma vi- da. Um pouco de história: Vila Real de Santo António surgiu graças aos esforços do Mar- quês de Pombal, o responsável pela reconstru- ção de Lisboa após o terramoto de 1755 e que Não foi lá muito difícil. O Algarve visivel- mente reúne factores essenciais para boa épo- ca de férias. Um deles é o factor humano. Os algarvios, já acostumados a receberem muitos visitantes, proporcionam um acolhimento sim- pático e aberto, além do ambiente, com belas praias e paisagens, e de muita gente diferente para se conhecer. Quando estes elementos se reúnem num só lugar, a probabilidade de pas- sar ali bons momentos é bem grande. Sim, férias para todos, mas… E depois? Quem por estes lugares passa nem sempre se apercebe do impacto que está a causar numa região, social e ecologicamente falando. So- cialmente, pois o progresso turístico pode ser demasiado. Línguas estrangeiras em letreiros e placas de trânsito, contribuição para uma lenta perda de identidade. E a nível ecológico, pois um pedaço de papel ou uma lata de cerve- ja pode não ser uma catástrofe imediata, mas, com o passar do tempo, este material, abando- nado no fundo do mar, poderá causar danos ir- reparáveis (o mais grave é que não estamos a falar de apenas “uma” lata de cerveja ao mar). levou progresso à vila, com a construção de ruas bem ornamentadas e monumentos sum- ptuosos. Além do centro histórico, as praias são as maiores atracções do lugar. A praia de Monte Gordo, por exemplo, é uma das praias mais procuradas da zona do so- tavento algarvio. Uma praia para todos os gos- tos, que guarda, numa das suas extremidades, uma mata de pinhais silvestres onde se pode caminhar e respirar o perfume característico da vegetação. Na outra, a parte mais movi- mentada, com calçadas extensas e vários pub´s, restaurantes, bares e esplanadas a céu aberto. CV Junho 2004 CLÁUDIO VAZ Para a questão social, aposta–se na educa - ção, para o problema ambiental, são criadas reservas ecológicas para promoverem uma consciencialização e a conservação destes lu- gares. Como é o caso do Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão, ponto de passagem de aves migratórias e berço de uma grande va- riedade de peixes e plantas locais. A caminho da ilha de Armona, encontro pe- la primeira vez as minhas amigas suecas. Companheiras recém–conhecidas, quase que inseparáveis que, no meio desta minha passa- gem pelo Algarve, me ajudaram, através da amizade e dos seus olhares, a perceber qual o sentido daquela viagem, nestes outros e dife- rentes rumos que a vida nos presenteia. CV Junho 2004