Trabalho de WebDesign Glamour Nº79 | Page 11

das vezes que fui acusada de roubo, das horas extras e de quando parava a faxina para servir água para a dona da casa (que tinha a minha idade) enquanto ela assistia à TV. Resolvi fazer um relato.

Uma das minhas patroas fazia almoços de negócios em casa, e era eu que cozinhava. Mas ela não me deixava comer aquela comida e nem levar marmita porque “pegava mal alguém me ver comendo.” A solução que ela encontrou? Pediu para eu entrar às 9h, e sair uma hora mais cedo, às 16h , para almoçar em casa. Dá pra acreditar? Divulguei a história com a hashtag #EuEmpregadaDoméstica, mas achei que em 2016 o cenário já tinha mudado. Para minha surpresa, comecei a receber relatos muito parecidos. Foram tantos em 24 horas que resolvi criar a página no Facebook. Depois de três dias, já tinha mais de 50 mil seguidores e a iniciativa tomou proporções surpreendentes. De repente, estava na BBC de Londres e fui chamada para o Encontro Com Fátima Bernardes.

Em 2017, criamos o Guia de Direitos das Trabalhadoras Domésticas, em parceria com o Observatório dos Direitos e Cidadania da Mulher e o coletivo feminista Como um Deusa. Lançamos também o aplicativo “Laudelina”, para as domésticas denunciarem casos de maus tratos.

Sei que não sou pioneira nessa luta, mas fico feliz de fazer parte porque em vários países essa é uma profissão bem remunerada, em que as domésticas são universitárias. Aqui, infelizmente, são semianalfabetas e sem perspectivas.

Hoje, depois de três anos, a página tem mais de 175 mil seguidores e minha ideia é transformar meus relatos, os da minha mãe, os da minha vó e vários outros que recebi em um livro.

O CANTO DESSA CIDADE É DELA

Mesmo que gostasse de dar aulas, minha paixão continuava sendo a música. Por isso, lancei meu primeiro álbum em 2015, o Audácia. Usava minha formação em História e minha experiência de vida para falar sobre racismo, feminismo e aceitação. Esse disco chegou em lugares que nunca imaginei, como Moçambique, Angola e Portugal. Com várias outras mulheres, comecei a mudar a ideia de que o movimento hip-hop era exclusivo para homens na Baixada.

OUÇA O ÁLBUM COMPLETO DA PRETA RARA: "AUDÁCIA"