aparência - pelo menos para os contratantes. Demorei para entender que currículo com foto é um ponto negativo para uma pessoa preta no Brasil. Quase um ano depois, o único trabalho que consegui foi como empregada doméstica. Até cheguei a acreditar que estava, de fato, predestinada a isso. Lembro que quando cheguei em casa e contei para a minha mãe, ela começou a chorar. Na primeira semana de trabalho, entendi o por que: ser empregada doméstica no Brasil é, muitas vezes, humilhante.
Nas horas vagas, continuei me dedicando à música. Aos 20, criei com mais três meninas um dos primeiros grupos femininos de rap em Santos, o Tarja Preta. Em paralelo, ainda procurava emprego em outros lugares, mas nunca passava nas entrevistas. Cheguei a ouvir, inclusive, que não caberia no uniforme de uma loja!
Foram vários absurdos. Foi assim que, por sete anos, trabalhei como doméstica ganhando R$400 por mês.
Em 2009, aos 25, finalmente consegui entrar na faculdade graças à ajuda de amigos para pagar a matrícula. Comecei a cursar História na Universidade Católica de Santos e, depois de seis meses, consegui um estágio. Fui trabalhar no Monumento Nacional Engenho dos Erasmos e fiquei nas nuvens. Minha jornada era de apenas seis horas e ganhava bem mais do que na faxina. Desde então, nunca mais fui doméstica.
Tomei gosto pela minha área. Virei professora de História e dei aula para adolescentes durante sete anos. E era engraçado porque, em Santos, a cena de mulheres do rap tinha crescido muito. Então na sala muitos alunos me reconheciam e ficavam surpresos por terem aula com “a Preta Rara”.
EU, EMPREGADA DOMÉSTICA
Cresci na periferia, mas sempre quis morar perto da praia. Quando era professora, aluguei uma kitnet com vista para o mar. E um dia, deitada no sofá, parei para refletir sobre tudo o que tinha vivido para chegar ali. Aí vieram lembranças muito fortes, que pareciam adormecidas até então, de quando eu era empregada doméstica. Lembrei que descontavam do meu salário quando quebrava alguma coisa,
10 GLAMOUR