Trabalho de WebDesign Glamour Nº79 | Page 9

e a menina que fui na

infância soubesse da

mulher que eu me

tornaria, ela teria sido

muito mais leve e

feliz. Meu nome é Joyce Fernandes, mas todo mundo me conhece como Preta Rara, apelido que ganhei da minha mão porque gostava de fazer coisas diferentes das outras garotas, como jogar futebol e brincar de carrinho. Nasci e cresci na periferia de Santos, litoral de SP. Minha mãe, que

trabalhou como

empregada

doméstica por

muitos anos, e

meu pai, que

ainda é carteiro,

criaram quatro

filhos: eu, que

tenho 33 anos; a

Raquel, de 30; a

Jaque, de 26; e o

caçula, Lucas,

que adotaram

mais tarde e

hoje tem 11. As

pessoas pensam que famílias pretas e pobres são sempre de mulheres sozinhas, mas não lá em casa. Nossa base sempre foi muito tradicional, unida e ligada à música. A gente colecionava discos de Alcione a Michael Jackson e eu os escutava para comer, lavar louça e estudar.

Minha primeira experiência como cantora foi aos 10 anos, quando minha mãe obrigou todo mundo a frequentar a igreja.

Entrei para o grupo de louvor e passei a entender mais sobre a parte técnica. Quando não estava cantando, estudando ou ouvindo música, acompanhava minha mãe no trabalho - uma situação bem comum para a maioria das filhas de empregadas domésticas.

Já nessa época, ouvia muita coisa que só fui digerir anos depois, como gente dizendo que eu estava predestinada a ser doméstica, que não podia brincar com as filhas das patroas ou que

tinha uma “beleza

diferente”. Queria ser a

Xuxa, mas era negra.

Queria ser a Mara, mas

não tinha cabelo liso. É

claro que essas

situações

influenciaram muito

na minha autoestima.

Na adolescência, me

juntei a um grupo de

meninas para fazer

cover de uma banda

gospel. Foi nessa época

também que comecei a

colocar no papel tudo o que tinha guardado até então por ser menina, negra, gorda e moradora da periferia. Fui transformando o que sentia em poesias rimadas.

Quando terminei a escola, resolvi juntar uma grana para fazer faculdade. Por isso, aos 18 anos, comecei a procurar emprego como vendedora em barraca de praia, quiosque de lanche… qualquer coisa! Mas não tinha experiência. Nem boa

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