"Todo gesto do artista
é um gesto para a
revelação de alguma
coisa. Como se ele
quisesse forçar para
que algo que está
escondido apareça."
É impossível não se atentar ao cuidado estético de seus livros. Em "Contos de cães e maus lobos", por exemplo, você concedeu igual peso às ilustrações mescladas aos contos, ou em "O paraíso são os outros", cujas páginas se intercalam com lindas obras de Nino Cais. Mesmo nos que não trazem ilustrações no interior, nota-se um cuidado enorme na escolha dos recursos gráficos, materiais, texturas, imagens e cores. Para você, como escritos, qual a relevância desse primor estético?
Para mim é fundamental. É algo que eu não consigo me distanciar. Se eu pudesse, dominaria meu livro até a última questão. Porque enquanto objeto, ele me importa muito. Ele estará comigo, no meu cotidiano, e eu sou muito deslumbrado pela beleza. Tenho muita ansiedade por me rodear do belo. Tenho uma convicção de que a beleza é indutora de uma certa felicidade. E por isso habitar, e ocupar um espaço que seja preparado para a beleza é, no fundo, prepararmos para uma certa expectativa de felicidade. E então eu não poderia deixar meus livros abandonados. Sou muito protetor.
Sou muito fascinado pelas artes plásticas, pela capacidade de se fazer presentificar aquilo que não existe e de se fazer ver aquilo que não é visível. É algo que cada vez puxo mais para minhas mãos. À medida que os editores possam confiar em mim, escolhos os ilustradores e artistas plásticos. Posso escolher as cores, dou opinião de como quero a diagramação. Erro muito também. Às vezes escolho coisas e depois passo numa livraria e vejo um livro de outro escritos, de outra editora, e penso isso era exatamente o que eu queria fazer, mas não soube decidir, não tive a ideia. Mas aí eu vou corrigindo, vou aproximando, vou juntando, experimentando, mudando.
Se eu pudesse, mudaria de capas todo ano. Todo ano lançaria edições completamente diferenciadas. A arte tem essa capacidade de nos dotar de sempre mais alguma coisa. Então a possibilidade de, de repente juntar um outro artista plástico, mudar de artista, é a chance de, subitamente, vermos nosso trabalho aumentado.
Eu adoraria que os livros fossem como a moda, com estações. O mesmo livro primeiro ter a cara outono-inverno, depois primavera-verão. Seria lindo! De seis em seis meses o livro se preparava para a próxima época. Eu seria extremamente adequado para uma tomada do livro pelo universo da moda.
O HOMEM IMPRUDENTEMENTE POÉTICO
Escute o autor refletindo sobre a ideia de “defeito” no outro e a importância da complementaridade nas relações pessoais.