Escala URICA-V: nova perspectiva com base na teoria de resposta ao item
resultados encontrados no decorrer do
capítulo, buscando investigar por meio da
autopercepção em qual estágio do ciclo de
mudanças o paciente se encontrava para
enfrentar a terapia de voz.
Fundamentação Teórica
Estudos populacionais estimam que
a prevalência de disfonia na população em
geral varia de 3% a 9% (VERDOLINI, RAMIG,
2001; ROY et al., 2005; BEHLAU et al., 2012;
BHATTACHARYYA, 2014). A disfonia pode ser
definida como um distúrbio da comunicação
oral, que impossibilita a voz de cumprir seu
papel na transmissão da mensagem verbal e
emocional de um indivíduo (BEHLAU, 2001).
Os
fatores
relacionados
ao
aparecimento da disfonia podem ser
comportamentais
ou
orgânicos,
que
independente da causa, podem resultar na
mudança na qualidade vocal (SIMBERG et al.,
2009; BEHLAU et al., 2001) e em prejuízos à
qualidade da comunicação, com impacto nas
relações emocionais, profissionais e sociais,
além de afetar a qualidade de vida do sujeito
(KASAMA, BRASOLOTTO, 2007; COSTA et al.,
2013; ALMEIDA et al., 2014).
A voz é considerada um fenômeno
multidimensional e, provavelmente, o
sistema mais elaborado da comunicação
humana, sendo compreensível que seja difícil
a utilização de um método único para avaliar
de forma abrangente e precisa a qualidade
vocal e seus distúrbios (GUIMARÃES 2007;
CARDING 2009). Assim, a avaliação básica da
voz necessita ser realizada a partir de diversos
métodos, como a avaliação perceptivo-
auditiva, exame visual laríngeo, análise
acústica, aerodinâmica e autoavaliação
vocal, por parte do paciente (DEJONCKERE
2001; CARDING 2009).
A avaliação vocal, tradicionalmente, é
baseada na percepção do clínico, porém esses
dados não são considerados suficientes para
mensurar a real dimensão da disfonia, pois
não fornecem informações sobre a percepção
do paciente quanto às limitações impostas
nas suas atividades de vida diária (UGULINO
et al., 2012). A percepção do paciente quanto
à própria voz, isto é, a autoavaliação sobre o
quanto a disfonia compromete a qualidade
de vida, oferece dados importantes para o
diagnóstico vocal e fornece suporte para o
direcionamento do planejamento terapêutico
e monitoramento da intervenção (KASAMA,
BRASOLOTTO, 2007; UGULINO et al., 2012;
COSTA et al., 2013).
A adesão do paciente ao tratamento
é considerada um elemento de extrema
importância para o êxito da terapia
fonoaudiológica. Muitas vezes a adesão à
terapia vocal desempenha um papel mais
importante no processo de reabilitação
do que a abordagem terapêutica utilizada
(Portone; Johns; Hapner, 2008).
Mudanças comportamentais são de
grande importância na terapia vocal, bem
como a adesão às orientações e procedimentos
indicados pelo fonoaudiólogo, independente
do fator etiológico (Gama et al., 2012). O
sucesso do tratamento fonoaudiológico
depende do envolvimento ativo e adesão do
paciente no processo terapêutico, fato que não
ocorre de maneira automática (Leer; Connor,
2008; Hapner; Portone; Johns, 2007). Dessa
forma, é importante monitorar de uma forma
fidedigna o estágio de prontidão em que o
indivíduo se encontra em vários momentos
da terapia, como pré, durante e pós.
Um dos instrumentos utilizados para
a mensuração do estágio de prontidão para
mudança em indivíduos que se submetem a
tratamentos de saúde é o University of Rhode
Island Change Assessment (URICA), que foi
desenvolvido a partir do Modelo Transteórico
(Mcconnaughy;
Prochaska;
Velicer,
1983). No Brasil, desenvolveu-se a Escala
URICAVoz a partir da adaptação para área de
voz e validação para o português brasileiro
(Teixeira et al., 2013). Ele tem como objetivo
verificar o estágio de prontidão para mudança
de pacientes com disfonia submetidos à
terapia vocal e possui 4 domínios: pré-
contemplação,
contemplação,
ação
e
manutenção (Teixeira et al., 2013).
Instrumentos de autoavaliação como
a Escala URICA-Voz fazem parte da avaliação
básica da voz, pois acrescentam a visão
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