2 Aqui, Signorini discute a respeito de letramentos multi-hipermidiáticos, mas acreditamos ser essa visão de apropriação dos letramentos válida para o âmbito ao qual nos propomos defender.
USO RESTRITO. VENDA E DISTRIBUIÇÃO PROIBIDAS
teúdos já fizerem parte de si, articulando-os e entendendo que o ensinar é um ato político-ideológico e, portanto, abrange relações de poder. Queremos, assim, levar os alunos a
se apropriarem desses letramentos enquanto cidadãos – ou seja, enquanto indivíduos e grupos capazes de fazer ligações mais profícuas entre linguagem, saber e poder –, e não apenas enquanto consumidores de produtos tecnológicos2 . (SIGNORINI, 2012, pp. 282-283).
A escola, muitas vezes, mostra-se como um ambiente distante da vida dos alunos, onde eles não podem se dizer e se inscrever, impossibilitados que são de deixar suas subjetividades estampadas nesse lugar, posto que tolhidos de poderem se in-screver e se ex-screver (CORACINI, 2008). Ou seja, não há esse lugar em que os alunos possam se identificar com aquilo que aprendem e, com isso, pincelar fragmentos e inscrevê-los em si mesmos para, após um movimento de subjetivação do apr(e)endido, poderem dizê-los a partir de suas experiências e vivências próprias.
Ante este silenciamento da voz do aluno (PIETRI, 2012), o que mais ansiamos é que, no ensinar, haja mais espaço para essa voz. Queremos gritos dos alunos, com intenção de que eles entendam que o ambiente escolar também pode (e é) parte de sua vida, e que não precisam se calar caso presenciem algo que discordem. A partir disso, é possível inserir esse aluno de uma maneira melhor nas escolas, fazendo com que ele se sinta parte dela e possa deixar suas visões e percepções a respeito do mundo vazarem. A escola, assim, tornaria-se um lugar-depósito, naquele em que os alunos podem colocar-se a si mesmos, marcando-o, crivando-o, dilacerando-o com seus movimentos mais íntimos.
Nessa sociedade que valoriza exacerbadamente o ser racional, é preciso desracionalizarmos um pouco, permitindo que os sujeitos possam se dizer e produzir diferentes maneiras de significação ao mundo e ao contexto em que estão inseridos. Os olhares precisam se expandir, mostrando a multiplicidade de cada vivência e de cada interpretação. Não defendemos o tudo aceitar, mas resguardamos o ponto de vista de cada um dos sujeitos que estão no ambiente escolar, valorizando suas percepções e podendo tecer-lhes sentidos outros que antes receavam por ver, graças a esse tolhimento velado que sofrem.
Queremos que cada um de nós mostre a sua respectiva verdade (FOUCAULT, 1992), não que fiquem encerrados em uma verdade que é violentamente imposta a eles. Afinal, “onde existe a escolha, a verdade já não é UMA” (KEHL, 2001, p. 71) e almejamos que os sujeitos se repletem de escolhas, tendo por base aquela verdade que se diz no interior de cada um. E que possamos entender essas diferentes visões de forma a não excluir ou silenciar esse outro que muito diz de nós mesmos.