A energia monística do Mundo , À meia-noite , penetrava fundo No meu fenomenal cérebro cheio …
Era tarde ! Fazia muito frio . Na rua apenas o caixão sombrio Ia continuando o seu passeio !
Poderíamos dizer que esse soneto é uma síntese de todos . Em primeiro momento , Augusto dos Anjos também utiliza a catalepsia como metáfora do homem moderno . Mas ao contrário do romantismo de Augusto de Lima , o poeta hediondo prefere questionar pela alma , algo mais próximo ao psiquismo rollinatiano . Como Raimundo Correia , Augusto dos Anjos apresenta um exuberante requinte verbal , na construção técnica do poema . Mas ao contrário deste , não foge ao fantástico que se abre na experiência profunda com a realidade . Enfim , tanto ao poeta francês quanto ao paraibano , o homem moderno , em seu anonimato , largado aos absurdos cotidianos , vê-se esvaziado da alma , que somente existe para si e em si mesma , enquanto atividade psíquica , sendo , em suma , aquilo que chamamos de consciência .
Esse símbolo forjado por Maurice Rollinat , enfim , chegará até um poeta singular como Manuel Bandeira .
MOMENTO NUM CAFÉ
Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida .
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente . Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade , Que a vida é traição , E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta .