Scripsi Scripsi 4 | Page 48

Para as tábuas partir da estranha jaula, cobras Muito embalde, um vigor imenso, extraordinário; E os braços nem sequer desprenderás das dobras Do teu longo sudário! De encontro à tampa, em vão, porás os pés e os ombros Sem conseguir rachá-la; e tua alma, vencida, Num círculo mortal de horrores e de assombros, Há de rolar sem vida!... E esse incômodo odor da argilla úmida e fria, Da madeira inda nova e das roupas que cinges, Hão de, por fim, trazer-te aos pulmões a asfixia, E a nevrose às meninges. O humor que, gota a gota, o cimento esponjoso, Como negra ampulheta, estilla, entre os granitos Caíndo, formará, nesse antro tenebroso, Os echos de teus gritos! E esses gritos de horror morrerão sem resposta E tu, hirto o cabelo, alucinado e inerme, Crerás ver já, por fim, a carne decomposta, E em cada póro – um verme... Tardia contrição terás nestes instantes; Em vão: os infernais espectros do delírio Vêm com dentes de ferro, agudos, lancinantes Dobrar o teu martírio!... Nessa hora, entanto, os teus, teu magro testamento, Chocam-se a discutir sem que em nada concordem: E um velho tabelião, que chega em tal momento, Mais aumenta a desordem! E tu restarás só, nas quinas comprimido De uma caixa de pau, ao fundo de um buraco; Sem hálito, sem voz, na mortalha cozido, Gélido, exangue e fraco. Sentirás, afinal, a rigidez da morte Pelos teus membros se ir, aos poucos, estendendo... Um suspiro a soltar, no angustioso transporte, Derradeiro e tremendo...