Para as tábuas partir da estranha jaula, cobras
Muito embalde, um vigor imenso, extraordinário;
E os braços nem sequer desprenderás das dobras
Do teu longo sudário!
De encontro à tampa, em vão, porás os pés e os ombros
Sem conseguir rachá-la; e tua alma, vencida,
Num círculo mortal de horrores e de assombros,
Há de rolar sem vida!...
E esse incômodo odor da argilla úmida e fria,
Da madeira inda nova e das roupas que cinges,
Hão de, por fim, trazer-te aos pulmões a asfixia,
E a nevrose às meninges.
O humor que, gota a gota, o cimento esponjoso,
Como negra ampulheta, estilla, entre os granitos
Caíndo, formará, nesse antro tenebroso,
Os echos de teus gritos!
E esses gritos de horror morrerão sem resposta
E tu, hirto o cabelo, alucinado e inerme,
Crerás ver já, por fim, a carne decomposta,
E em cada póro – um verme...
Tardia contrição terás nestes instantes;
Em vão: os infernais espectros do delírio
Vêm com dentes de ferro, agudos, lancinantes
Dobrar o teu martírio!...
Nessa hora, entanto, os teus, teu magro testamento,
Chocam-se a discutir sem que em nada concordem:
E um velho tabelião, que chega em tal momento,
Mais aumenta a desordem!
E tu restarás só, nas quinas comprimido
De uma caixa de pau, ao fundo de um buraco;
Sem hálito, sem voz, na mortalha cozido,
Gélido, exangue e fraco.
Sentirás, afinal, a rigidez da morte
Pelos teus membros se ir, aos poucos, estendendo...
Um suspiro a soltar, no angustioso transporte,
Derradeiro e tremendo...