Faze o teclado entoar, em voz exortatória,
Essas notas ferais, réquiem da Humanidade,
Em que a vida, expiralando, em cântico de glória
Exala para o etéreo azul da Eternidade!
E tu serás bendita; e em tua alcova quieta,
Cheia de emanações, de melodia e calma,
De joelhos a teus pés, com um fervo de poeta,
Eu beijarei a mão que faz chorar minha alma!
Ao tratar da música, esse é um poema muito importante à estética
rollinatiana. O tema da música é, ela mesma, um motivo dentro de As Neuroses.
Curiosa é a paráfrase empreendida por Olegário Mariano, publicada, até onde
se sabe, somente nos jornais da época:
MADEMOISELLE ESQUELETO
Musa de Rollinat, Mademoiselle Esqueleto,
Foste a minha aflição e és a minha saudade.
Dás-me a ideia infeliz, neste vestido preto,
De alguém que me roubou toda a felicidade.
Ela era como tu descarnada e sofria
Dos pulmões. Tinha esse ar de humildade e desgosto.
Andava como quem anda em lenta apatia,
Perdendo sangue nos crespúsculos de agosto.
Tuas olheiras, teus espasmos, teus cansaços,
Teus gestos sensuais, cheios de pesadelos,
Tinhas uns braços assim brancos como os teus braços
E uns cabelos da cor negra dos teus cabelos.
Era minha, e foi ela, a tristeza em pessoa,
que me deu no seu lábio ânsias de embriaguez.
E deixou-me, partiu... Parecia tão boa!
Não se morre de dor... Que falta ela me fez...
E desde então eu ando automaticamente,
Parvo, alheio, imbecil... vendo em tudo o que espio
O vulto dela, como um grande lírio doente,
Muito sereno, muito triste, muito esguio...