Scripsi Scripsi 4 | Page 43

Merece destaque também a tradução feita por Alfredo Castro, incluída em seu livro De Sonho em Sonho, de 1903, do soneto:
PESADELO DE ASCETA
A serpente se ergueu sobre a minha alpercata, Fascinou-me, caiu sobre mim, num momento, E em torno do pescoço, em brusco movimento, Enroscou-se, formando ondulosa gravata.
Depois, desenrolou seus anéis, lento e lento, E, presa do reptil de testa larga e chata, Meu corpo, então, sentiu, numa bruma escarlata, A frieza glacial de um mole enlaçamento.
De repente, o animal, com os olhos d ' água cheios, Tomou boca, e tomou cabelos, membros, seios, Cerrando mais os nós, com ar apaixonado.
– " Tua forma- exclamei- de serpente recobra: Prefiro, se é mister que morra envenenado, A um beijo de mulher cem picadas de cobra!"
Também admirado pelos nossos parnasianos, Rollinat ganhou uma bela tradução do poeta Gustavo Teixeira:
MARCHAS FÚNEBRES
Tu, cujas brancas mãos de estátua, comovida, Carregadas de anéis, em gestos adejantes, Tiram a voz que embala e a súplica dorida Da entranha musical dos pianos soluçantes;
Tu, cujo coração deseja que a harmonia Seja um mar onde vogue um inefável canto; Tu, que à força de gênio, em uma sinfonia Pões risos de regresso e ais de adeuses em pranto:
-- Toca ainda uma vez essas marchas mortuárias Que o dantesco Chopin e o trágico Beethoven Deixam para os que vão, nas urnas funerárias, Sem remorsos, dormir lá onde prantos chovem!