Scripsi Scripsi 4 | Page 42

E vós, que muita vez, silentes como os mármores Adormeceis bem como as almas sem receio, Então rugis, torcendo os braços, pobres árvores, Sob as patas brutais de elementos sem freio! Quando a ave os olhos fecha ao verão que aquebranta Dos vossos ramos vai dormir ao brando afago; Eles servem de abrigo à pedra e à débil planta E casam sua sombra à fresquidão do lago. Só nas noutes de maio, aos clarões estrelares, Aos aromas sutis que as caçoulas exalam, E que esquecer podeis as dores seculares, Dormindo um sono bom que os zéfiros embalam. O sol vos cresta e morde: o aquilão vos vergasta: – Vivos embora – o inverno em frígida mortalha Vos cinge; e como enfim tanto sofrer não basta, A rir, o lenhador vossas carnes retalha. Na cidade, no campo ou nas ínvias devesas, Onde quer que vivais, olmos, faias, carvalhos, Eu fraternizo com as enormes tristezas Que derramam pelo ar vossos sombrios galhos... Em seu Musa Francesa, de 1917, Álvaro Reis incluiu uma bela versão do soneto: A BIBLIOTECA Sombria, ela evocava esses bosques incultos; Treze lâmpadas de ferro, oblongas e ancestrais, Sobre os livros, ao pó do tempo, e à sombra ocultos, Lançavam dia e noite uns clarões sepulcrais... Sempre eu tremia quando entrava os seus umbrais; – E entre sombras me via, e entre roucos sigultos, Diante de treze senis poltronas espectrais, E sob o austero olhar de treze velhos vultos. Um dia, à meia-noite, eu, de uma das janelas, Olhava, a aparecer e a desaparecer, O duende que se esgueira e salta pelas vielas... Quando se me gelou de súbito a razão... Treze vezes ouvi o relógio bater No silêncio feral do maldito salão!