Ou triste ou a brincar, esperto ou sonolento
Da casa em que me encerro a alma ele possui,
Saindo da poltrona ao lar vai, friorento;
No que toca jamais a nitidez possui,
Ou triste ou a brincar, esperto ou sonolento.
Na mesa do escritor, de tinta azul manchada,
De livros e papéis desordem aparente,
Qual sopro passa e toca a cauda aveludada
A folha em que o pensar acende o facho ardente,
Na mesa do escritor, de tinta azul manchada.
Quando a mãozinha lambe a língua cor de rosa,
E seu pelo acetina e limpa o seu focinho,
Piscando os olhos faz momice graciosa!
Quisera-o no meu colo a lhe afagar o arminho,
Quando a mãozinha lambe a língua cor de rosa!
Enovelado contra o frio rigoroso
Em frente do fogão, inferno flamejante,
Nos ratos pensará o caçador famoso
De aguçada dentuça e de unha perfurante,
Enovelado contra o frio rigoroso?
Do artístico fogão olhando p’ra escultura
(De fantástico ser imagem monstruosa!)
Na gata branda cisma, a ardente criatura
Que mostra o seu ardor em ânsia voluptuosa,
Do artístico fogão olhando p’ra escultura?
Pensa em noite de estio, amor à luz da lua,
Em que a felpuda gata aos braços estreitava!
Com o inverno vem uma avidez tão nua,
Olhando para a chama à sua comparava.
Pensa em noite de estio, amor à luz da lua.
Aguçam-lhe a luxúria os languidos suspiros
Da minha amante e meus, a transbordar, desejos!
Ciumento e feroz, eis a vaga em torvos giros!
No quarto soa então a música dos beijos!
Aguçam-lhe a luxúria os languidos suspiros.
Quando ele pula, enfim, na cama amarrotada,
Como para gozar ventura deleitosa,
A paixão lhe reluz na íris fosforada.
Então é que se vê lubricidez pasmosa,
Quando ele pula, enfim, na cama amarrotada.