A CONSCIÊNCIA
Vê dentro da nossa alma a consciência, Como os olhos do gato vêm no escuro; Seja-se embora grande, embora obscuro, Ímpio ou austero frade em penitência.
É inútil evitar a persistência Desse olhar frio, grave, mas seguro. Vê dentro de nossa alma a consciência, Como os olhos do gato vêm no escuro.
Até que solva-se a vital essência E da Parca nos fira o golpe duro, Ela devassa o pensamento impuro, Se apega à mais sutil reminiscência, Vê dentro de nossa alma a consciência.
Esse é um poema importante dentro de As Neuroses. Ainda que seja uma tradução mais lassa, podemos notar que o conteúdo é uma sondagem psicológica, simbolizado pelo gato e pelo clérigo.
Símbolo de Poe e Baudelaire, o gato reaparece na tradução de Guilherme Martins, jovem poeta obcecado por felinos:
O GATO
Razão tem Baudelaire ao gato havendo amado. É um mágico ser, esfinge misteriosa! Dos olhos seus a cor de um glauco amarelado Tem uns jatos de luz claríssima, formosa! Razão tem Baudelaire ao gato havendo amado.
Mulher, serpente, pomba e símio pela graça! Ondula, arqueia, foge a um contato rudo! E quando o gato é gordo e de felpuda raça, É a plástica beleza envolta num veludo. Mulher, serpente, pomba e símio pela graça!
Na penumbra a viver num silêncio severo Sem tédio a ronronar igual e compassado, Traz sua companhia ao solitário austero Do místico consolo o bálsamo adorado, Na penumbra a viver num silencio severo.