Science and Health V. unico | Page 13

O exemplo vem de casa Crianças adoram fingir que estão dirigindo, e elas ficam mesmo uma gracinha balançando a direção, ligando o pisca-alerta e imitando o barulho do motor. Enquanto crescem, gostam de sentar ao colo do motorista, querem trocar a marcha e sonham com a direção. Embora pareçam inofensivas, essas brincadeiras devem ser desencorajadas. “Os pais olham o filho adolescente tirando o carro da garagem e ficam orgulhosos, como se ele estivesse supostamente maduro. Mas o pai tem de dar o exemplo e não esperar que o filho aprenda o que é certo fora de casa”, diz Maria. Os pais que permitem que o filho dirija antes de estar habilitado, são aqueles que também aprenderam a dirigir cedo. Mas os tempos são outros, assim como as exigências da lei, a potência dos carros e a movimentação das ruas. O publicitário Carlos Eduardo Cruz tem 25 anos e há dez aprendeu a dirigir com o pai e com o irmão mais velho. Ele conta que o fascínio por carros vem desde as brincadeiras de criança e que estar ao volante foi uma realização – para ele e para os amigos que também aprenderam a dirigir na mesma idade. “Isso é mais forte entre os homens, a gente vê o pai dirigindo e acha bacana. Quando oferecem o carro nem pensamos duas vezes”, conta. No início era só sentar no colo e assumir o volante, depois vieram as voltas pelo bairro. Até a ida para comprar pão na panificadora a uma quadra de distância era motivo de pegar o carro. Mais tarde vieram as saidinhas escondidas dos pais, geralmente na praia. “Quando fui tirar a carteira foi bem tranquilo, foi só cumprir as aulas obrigatórias para tirar alguns vícios e fazer a prova”, conta. Ele mesmo admite ter ouvido do instrutor da autoescola que é mais difícil ensinar a dirigir quem já teve contatos anteriores com a direção, e ele concorda. “Se você aprende direto com o instrutor já faz tudo certo, não precisa mudar nenhum comportamento depois”, afirma. Quando uma pessoa dirige sem habilitação, a carteira de quem cedeu o veículo é suspensa e uma multa é aplicada. Mas não é somente a punição que deve ser considerada pelos pais antes de se arriscar ensinando um filho menor a dirigir. Segundo a pedagoga Maura Moro, coordenadora da unidade de educação e mobilização da Urbanização de Curitiba (URBS), grande parte dos acidentes ocorre quando se está na proximidade de casa, exatamente onde filhos costumam aprender e treinar a direção, com ou sem os pais. Além dos riscos, é preciso levar em conta a responsabilidade e o papel dos pais como educadores. “O processo educativo dos futuros motoristas é lento e não pode ser deixado somente nas mãos do estado. Costumamos ouvir de crianças que o pai só coloca o cinto quando vê o guarda ou que o irmãozinho mais novo não tem cadeirinha. Um trânsito seguro é responsabilidade de toda a sociedade e é preciso que as famílias mudem seus hábitos”, afirma Maura. As escolas já têm dado um empurrãozinho na conscientização de crianças e adolescentes. Há cerca de dez anos, quando a educação para o trânsito foi adotada pelo novo código, ações educativas passaram a ser constantes em escolas. “Nas atividades a criança não assume o papel de motorista, pois aprende a ser pedestre, a ser passageiro ou ciclista e que a rua não é espaço público para brincadeiras. Quanto aos pais, devem estar atentos às oportunidades de educar. Dar carrinho de presente para os filhos não é errado, o ruim é dar o brinquedo e não passar informações que contribuam para o processo de formação”, diz Maura. Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/especiais/respeito- ou-morte/direcao-nao-e-brincadeira- bn9tjlhzbfeo158wqql600evi