O exemplo vem de casa
Crianças adoram fingir que estão dirigindo, e elas
ficam mesmo uma gracinha balançando a direção,
ligando o pisca-alerta e imitando o barulho do motor.
Enquanto crescem, gostam de sentar ao colo do
motorista, querem trocar a marcha e sonham com a
direção. Embora pareçam inofensivas, essas
brincadeiras devem ser desencorajadas. “Os pais
olham o filho adolescente tirando o carro da garagem
e ficam orgulhosos, como se ele estivesse
supostamente maduro. Mas o pai tem de dar o
exemplo e não esperar que o filho aprenda o que é
certo fora de casa”, diz Maria. Os pais que permitem
que o filho dirija antes de estar habilitado, são aqueles
que também aprenderam a dirigir cedo. Mas os
tempos são outros, assim como as exigências da lei, a
potência dos carros e a movimentação das ruas.
O publicitário Carlos Eduardo Cruz tem 25 anos e há
dez aprendeu a dirigir com o pai e com o irmão mais
velho. Ele conta que o fascínio por carros vem desde
as brincadeiras de criança e que estar ao volante foi
uma realização – para ele e para os amigos que
também aprenderam a dirigir na mesma idade. “Isso é
mais forte entre os homens, a gente vê o pai dirigindo
e acha bacana.
Quando oferecem o carro nem pensamos duas vezes”,
conta. No início era só sentar no colo e assumir o
volante, depois vieram as voltas pelo bairro. Até a ida
para comprar pão na panificadora a uma quadra de
distância era motivo de pegar o carro. Mais tarde
vieram as saidinhas escondidas dos pais, geralmente
na praia. “Quando fui tirar a carteira foi bem
tranquilo, foi só cumprir as aulas obrigatórias para
tirar alguns vícios e fazer a prova”, conta.
Ele mesmo admite ter ouvido do instrutor da
autoescola que é mais difícil ensinar a dirigir quem já
teve contatos anteriores com a direção, e ele
concorda. “Se você aprende direto com o instrutor já
faz tudo certo, não precisa mudar nenhum
comportamento depois”, afirma.
Quando uma pessoa dirige sem habilitação, a carteira
de quem cedeu o veículo é suspensa e uma multa é
aplicada. Mas não é somente a punição que deve ser
considerada pelos pais antes de se arriscar ensinando
um filho menor a dirigir. Segundo a pedagoga Maura
Moro, coordenadora da unidade de educação e
mobilização da Urbanização de Curitiba (URBS),
grande parte dos acidentes ocorre quando se está na
proximidade de casa, exatamente onde filhos
costumam aprender e treinar a direção, com ou sem
os pais.
Além dos riscos, é preciso levar em conta a
responsabilidade e o papel dos pais como educadores.
“O processo educativo dos futuros motoristas é lento
e não pode ser deixado somente nas mãos do estado.
Costumamos ouvir de crianças que o pai só coloca o
cinto quando vê o guarda ou que o irmãozinho mais
novo não tem cadeirinha. Um trânsito seguro é
responsabilidade de toda a sociedade e é preciso que
as famílias mudem seus hábitos”, afirma Maura. As
escolas já têm dado um empurrãozinho na
conscientização de crianças e adolescentes.
Há cerca de dez anos, quando a educação para o
trânsito foi adotada pelo novo código, ações
educativas passaram a ser constantes em escolas.
“Nas atividades a criança não assume o papel de
motorista, pois aprende a ser pedestre, a ser
passageiro ou ciclista e que a rua não é espaço público
para brincadeiras.
Quanto aos pais, devem estar atentos às
oportunidades de educar. Dar carrinho de presente
para os filhos não é errado, o ruim é dar o brinquedo
e não passar informações que contribuam para o
processo de formação”, diz Maura.
Fonte:
http://www.gazetadopovo.com.br/especiais/respeito-
ou-morte/direcao-nao-e-brincadeira-
bn9tjlhzbfeo158wqql600evi