Saúde Mental Jun. 2017 | Page 37

Como exemplo de luta e ativismo temos a ONG INVERSO atuando no cenário de Brasília.

Entrevistamos o psicólogo Thiago Petra, que trabalha promovendo a saúde mental nesta instituição. O diálogo trata de questões pertinentes a toda luta antimanicomial e ressalta a importância deste movimento e as contribuições que arte é capaz de fornecer aos indivíduos com sofrimentos psíquicos, baseados em sua vivência.

Durante a entrevista, contamos com a presença de uma paciente que participa das oficinas oferecidas pela INVERSO, e será identificada como Ju.

Qual é a relação entre a arte e a loucura?

TH- A loucura é uma expressão legítima do ser humano, mas ela usa uma outra linguagem, não racional e lógica dominante. Então a arte vem pra ser uma porta voz da loucura, porque a arte é uma linguagem, a loucura não consegue se comunicar, mas quando ela pinta alguma coisa, quando ela faz uma poesia, uma escultura, um teatro, para se fazer entendida, ser escutada, aceita, de uma forma não adaptacionista ...Porque o manicômio tem isso, ele não parece prisão mas é, tem grade, tem uniforme, tem fila, tudo que tem num presídio tem lá, e sai por bom comportamento, ou seja, quando você está sedado, quando é dócil e útil te dão alta, não é quando você tem sua loucura respeitada ou o respeito da sua dimensão humana, é quando você se adapta.

A arte é essencial, mas assim como ela é potente e transformadora, ela pode ser opressora, porque muitas vezes ela é usada na saúde mental como infantilizadora sabe? “ ah, faz esse desenhinho”, né Ju, aí está oprimindo, colocando a loucura de uma forma submissa...Tem que saber utilizar a arte, uma arte livre, realmente como forma de expressão, não como forma de ocupar o tempo, de distrair, como se fosse um filhinho pequeno.

O que é a INVERSO?

TH- A INVERSO é um espaço de convivência e a gente procura nesse espaço ajudar as pessoas a se expressar culturalmente, através do bloco de carnaval, através de intervenções urbanas.É essencialmente um espaço político, também sedia a reuniões do movimento pró saúde mental é um espaço que gera encontro, pra gente o que é mais revolucionário na saúde mental e na vida é o encontro... trabalhamos com oficinas terapêuticas, mas através da oficina queremos gerar encontro...você tem oficina de intervenção urbana né Ju, e o pessoal fala “ah, não quero fazer hoje, quero só ficar aqui conversando”, a gente não faz, não é aquela coisa de uma atividade obrigatória, a gente quer o encontro, quer a conversa...o encontro como um mecanismo clínico mesmo, de transformação.

Qual e o papel social desta instituição?

TH- É a reinserção social...na verdade uma inserção social, já que sequer foram inseridos antes, também é o empoderamento urbano, que é se reconhecer na cidade, quando ocupamos fazemos com que essas pessoas se pertençam ao espaço público, já fizemos uma praça de mosaico, colocamos frases em vário lugares da cidade, placas...então a cidade que é opressora, que segrega, se torna um lugar afetivo, de pertencimento, a vizinhança também começa a reconhecer na loucura uma capacidade e a respeitar essa maneira de ser.

quando o mosaico foi coordenado por uma mosaicista e não por um psicólogo, o sentido e o significado quem tem que dar é a pessoa e não eu.

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