Saúde Mental Jun. 2017 | Page 34

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A arte como porta- voz.

Maria Luiza Macêdo

“As imagens tomam a alma da pessoa”, estas são palavras de Fernando, um paciente psiquiátrico de Nise da Silveira, que teve uma melhora em seu estado psicótico ao começar a pintar quadros na terapia. É com essa frase que iniciaremos um breve histórico da relação dialética entre a arte e a loucura.

Com a mudança constante do conceito de loucura, como assinala Foucault, o que era percebido como sinal de sabedoria passa a ser visto como doença, bruxaria, alquimia, “em suma, tudo o que caracteriza o mundo falado e interditado da desrazão; a loucura é a linguagem excluída" (PROVIDELLO & YASUI, 2013 apud FOUCAULT, 2006 , p.215), cujos portadores deveriam ser isolados do convívio social, e estudados pela ciência do momento, a psiquiatria, para que a cura fosse alcançada e a insanidade desse lugar à razão.

Diante disso, surge a arte como mediadora de um diálogo entre o indivíduo e o meio em que se insere, como manifestação autentica daquilo que o mesmo carrega em seu íntimo e não é passível de ser mostrado de outra maneira.

No século XIII, na Europa, os portadores de “doenças mentais” assistiam a peças teatrais para terem contato e aprenderem a reconhecer o engano e a ilusão (LIBERATO & DIMENSTEIN 2013 apud FOUCAULT, 2003), mas é no século XIX que a relação entre a arte e a loucura ganha força e passa a ser utilizada como ferramenta nas instituições manicomiais, e não apenas como atividade de ocupação.

Johann Christian Reil, psiquiatra alemão contemporâneo de Pinel, construiu no século XIX um protocolo terapêutico composto por três estágios onde o paciente era envolvimento com estímulos relacionados, por exemplo, à música, ao desenho e aos símbolos (AATESP, 2010 apud CATERINA, 2005 ). Posteriormente, a valorização do inconsciente expressa na arte veio com Carl Gustav Jung, por meio da interpretação de desenhos, fotografias e mandalas (AATESP, 2010), para ele "Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (JUNG ).

No contexto atual, a loucura é carrega de estigmas e preconceitos muito fortes, que são mantidos por um extenso histórico de desinformação. O indivíduo que sofre de algum transtorno psíquico é por vezes taxado de agressivo, inconstante, perigoso, doente sem cura, incapaz e muitos outros adjetivos que acabam por tomar a frente das relações sociais e reduzem o indivíduo ao seu sofrimento.

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