Saúde Mental Jun. 2017 | Page 26

desesperada, questão de ter que acelerar para acompanhar o ritmo”. Já o estudante de Ciências da Computação, Marcelo, disse que prioriza a saúde mental, pois sem ela, ele não consegue estudar, o que reforça que dificuldades emocionais

prejudicam o rendimento nos estudos e,

consequentemente, na vida profissional futura

(Figueiredo & Oliveira, 1995).

A escolha do curso tão cedo, aproximadamente

aos 16, 17 anos por imposição do sistema

educacional, pode trazer prejuízos a

qualidade de vida dos estudantes, que,

nessa época, ainda estão passando por

uma crise de identidade (Cerchiari, 2004).

A frustração com o curso e a

consequente mudança de curso não são

situações raras nas universidades do

Brasil, o que pode ocasionar no

jovem um sentimento de deslocamento

no próprio espaço universitário e de

dúvida quanto às escolhas profissionais.

Mesmo quando o estudante cursa sua

primeira opção, pode se decepcionar com

a não realização de algumas de suas

expectativas para o curso, como é

possível perceber no relato do

estudante de Engenharia de Redes,

Nelson, que disse “você não sente

que tem que estudar pra

aprender, você sente que

fatalmente tem que estudar

pra tirar uma boa nota pra

passar na matéria, mesmo

que seja uma coisa que

goste, você estuda

porque precisa e

não porque

quer”.

Outro tópico que veio à tona durante as

entrevistas foi a desigualdade com estudantes

em condição de vulnerabilidade durante a

vida acadêmica. O estudante Denis de

Engenharia Mecatrônica, comentou “as

matérias são muito pesadas e nem

todos os alunos tem uma base,

porque tem gente que vem do

ensino particular e tem

gente que vem do

ensino público,

então pra quem não tem uma base, é mais difícil ainda”. A condição de vulnerabilidade de estudantes universitários é um fator de risco a sua saúde mental, pois, não basta assegurar o ingresso na universidade, para acontecer uma real democratização do ensino superior, é necessária a criação de condições concretas de permanência do aluno na universidade até a conclusão do curso, por meio de programas que busquem atenuar os efeitos das desigualdades provocadas por condições sociais e econômicas (Cherchiari, 2004)

Nesse contexto das dificuldades emocionais de estudantes, o apoio da família e amigos se constitui como algo muito importância para a melhora do jovem.

Lidchi e Eisenstein (2004) ressaltam o desenvolvimento da confiança em um membro da família, que acontece na medida em que as funções autonomia e proteção lhes são oferecidas equilibradamente pelos familiares. Desta maneira uma família funcional é percebida como afetuosa, com presença de diálogo, coesa, com regras flexíveis, porém com limites claros, oferecendo recursos necessários ao crescimento individual e apoio diante das situações-problema.

Dentre os 15 entrevistados, 9 disseram que procuraram a ajuda de amigos e familiares quando encontraram dificuldades. Quando o indivíduo se sente bem, devido às relações de afetividade, melhor se adapta às circunstâncias novas e, mesmo quando os eventos estressores não podem ser evitados, seus efeitos são menores, causando menor prejuízo à sua saúde psicológica (Souza, Baptista & Baptista, 2010).

Quando questionados sobre o CAEP UnB (Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos), apenas 5 estudantes conheciam o lugar, o que alerta para a não divulgação desse serviço de maneira eficaz nos espaços universitários. O CAEP realiza atendimentos individuais, terapia conjugal e familiar e atendimento à violência de gênero, e é aberto para toda a comunidade, incluindo alunos da UnB.

É necessário que as universidades elaborem políticas estudantis de atenção psicossocial, e que promovam debates envolvendo toda a comunidade acadêmica. Também é necessária a mobilização do Estado para o desenvolvimento de políticas públicas, uma vez que a saúde do estudante universitário está ainda descoberta, visto que não se enquadra em nenhum grupo de atenção em saúde estabelecido pelos Serviços Básicos de Saúde (Figueiredo & Oliveira, 1995).

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