desesperada, questão de ter que acelerar para acompanhar o ritmo”. Já o estudante de Ciências da Computação, Marcelo, disse que prioriza a saúde mental, pois sem ela, ele não consegue estudar, o que reforça que dificuldades emocionais
prejudicam o rendimento nos estudos e,
consequentemente, na vida profissional futura
(Figueiredo & Oliveira, 1995).
A escolha do curso tão cedo, aproximadamente
aos 16, 17 anos por imposição do sistema
educacional, pode trazer prejuízos a
qualidade de vida dos estudantes, que,
nessa época, ainda estão passando por
uma crise de identidade (Cerchiari, 2004).
A frustração com o curso e a
consequente mudança de curso não são
situações raras nas universidades do
Brasil, o que pode ocasionar no
jovem um sentimento de deslocamento
no próprio espaço universitário e de
dúvida quanto às escolhas profissionais.
Mesmo quando o estudante cursa sua
primeira opção, pode se decepcionar com
a não realização de algumas de suas
expectativas para o curso, como é
possível perceber no relato do
estudante de Engenharia de Redes,
Nelson, que disse “você não sente
que tem que estudar pra
aprender, você sente que
fatalmente tem que estudar
pra tirar uma boa nota pra
passar na matéria, mesmo
que seja uma coisa que
goste, você estuda
porque precisa e
não porque
quer”.
Outro tópico que veio à tona durante as
entrevistas foi a desigualdade com estudantes
em condição de vulnerabilidade durante a
vida acadêmica. O estudante Denis de
Engenharia Mecatrônica, comentou “as
matérias são muito pesadas e nem
todos os alunos tem uma base,
porque tem gente que vem do
ensino particular e tem
gente que vem do
ensino público,
então pra quem não tem uma base, é mais difícil ainda”. A condição de vulnerabilidade de estudantes universitários é um fator de risco a sua saúde mental, pois, não basta assegurar o ingresso na universidade, para acontecer uma real democratização do ensino superior, é necessária a criação de condições concretas de permanência do aluno na universidade até a conclusão do curso, por meio de programas que busquem atenuar os efeitos das desigualdades provocadas por condições sociais e econômicas (Cherchiari, 2004)
Nesse contexto das dificuldades emocionais de estudantes, o apoio da família e amigos se constitui como algo muito importância para a melhora do jovem.
Lidchi e Eisenstein (2004) ressaltam o desenvolvimento da confiança em um membro da família, que acontece na medida em que as funções autonomia e proteção lhes são oferecidas equilibradamente pelos familiares. Desta maneira uma família funcional é percebida como afetuosa, com presença de diálogo, coesa, com regras flexíveis, porém com limites claros, oferecendo recursos necessários ao crescimento individual e apoio diante das situações-problema.
Dentre os 15 entrevistados, 9 disseram que procuraram a ajuda de amigos e familiares quando encontraram dificuldades. Quando o indivíduo se sente bem, devido às relações de afetividade, melhor se adapta às circunstâncias novas e, mesmo quando os eventos estressores não podem ser evitados, seus efeitos são menores, causando menor prejuízo à sua saúde psicológica (Souza, Baptista & Baptista, 2010).
Quando questionados sobre o CAEP UnB (Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos), apenas 5 estudantes conheciam o lugar, o que alerta para a não divulgação desse serviço de maneira eficaz nos espaços universitários. O CAEP realiza atendimentos individuais, terapia conjugal e familiar e atendimento à violência de gênero, e é aberto para toda a comunidade, incluindo alunos da UnB.
É necessário que as universidades elaborem políticas estudantis de atenção psicossocial, e que promovam debates envolvendo toda a comunidade acadêmica. Também é necessária a mobilização do Estado para o desenvolvimento de políticas públicas, uma vez que a saúde do estudante universitário está ainda descoberta, visto que não se enquadra em nenhum grupo de atenção em saúde estabelecido pelos Serviços Básicos de Saúde (Figueiredo & Oliveira, 1995).
26