mais para que as lágrimas sequem. Quem consegue viver um luto e sair dele em duas semanas?
Eu passei por isso há muitos anos, em 2002. Casada há pouco tempo, engravidei duas vezes seguidas, e nas duas tentativas meu sonho se foi em poucas semanas. Ainda hoje, passados quinze anos, sinto um aperto no coração ao lembrar do que aconteceu, e confesso que nem gosto de falar do assunto. Na época de minha segunda perda, ainda me lembro bem, precisei retornar ao trabalho em pouco mais de uma semana, e fui participar de um evento, em outro estado, por alguns dias. Foi realmente uma experiência devastadora, não consigo encontrar outra palavra para definir o que senti naqueles dias. Eu ainda sangrava, tanto literalmente pelo aborto sofrido, quanto emocionalmente. Mas precisei entrevistar pessoas, sorrir, participar de almoços e reuniões, como se estivesse apenas me recuperando de um resfriado. Morri um pouco naqueles dias.
Quando retornei de viagem, procurei explicações para o que tinha acontecido, mas os médicos diziam que não havia motivos para preocupação. “Abortamento espontâneo é mais comum do que se imagina, ocorre em cerca de 20% das gestações, e o protocolo é investigar somente depois da terceira perda”. Escutei esta frase inúmeras vezes, mas mesmo assim fui procurar respostas. Como assim, seria necessário sofrer tudo de novo para então alguém resolver procurar o que havia de errado comigo? Infelizmente, esta é uma
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