RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 4 | Page 19

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fantasma de uma nova perda. Apesar de o impacto da perda gestacional na vida da mulher ser devastador, fora do núcleo familiar muita gente tem dificuldade de compreender as razões de tanto sofrimento. “Você é jovem, logo engravida de novo” ou “foi melhor assim, imagine que esta criança poderia ter algum problema” são, infelizmente, frases comuns que a mãe enlutada tem de ouvir de pessoas que acreditam que desta forma a estão consolando. A verdade é que só quem passou por isso, ou teve alguém próximo que passou, tem ideia do que aquela mãe está sentindo. Quem sofre uma perda gestacional, perde um filho. Ele não nasceu, mas já existia. Era um bebê, tinha nome, traduzia sonhos, era amado.

A mãe, além da dor física, carrega uma enorme dor emocional. É um misto de luto pela perda de um ente da família, impotência por não ter conseguido evitar a perda e culpa por talvez ter feito algo errado - e o medicamento que tomei antes mesmo de saber da gestação, será que fez mal? Eu não devia ter feito tantos exercícios, caminhado tanto... qual mãe que perdeu seu bebê nunca se questionou? E as pessoas ao redor se comportam como se tudo não tivesse passado de um evento médico menor. A própria licença concedida pelo Governo em caso de aborto espontâneo é um indicativo disso – as mulheres têm de retornar ao trabalho em 15 dias. Em geral, 15 dias nem é tempo suficiente para que o sangramento do aborto espontâneo cesse, quanto