RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 4 | Page 18

O luto da perda gestacional:

uma dor quase invisível

A partir do momento em que tomamos conhecimento da gravidez, nos sentimos mães. Comigo foi assim, e arrisco afirmar que para a maioria praticamente absoluta das mulheres o sentimento é o mesmo. Aquele pequeno embrião recém-descoberto é muito mais do que uma célula que está se desenvolvendo, é um filho. Não sabemos ainda se será menino ou menina, mas já começamos a escolher nome, fazer planos para o futuro, criar expectativas diversas para aquela criança que está sendo gerada. Projetamos na gestação todo o desejo de criar uma família, e aquele bebê representa a concretização de todos os nossos desejos maternais. Por tudo isso, quando algo dá errado e a gestação infelizmente é interrompida, a mãe sofre uma perda real. Não importa de quantas semanas estava, a mãe perdeu seu filho, e tudo aquilo que havia idealizado de repente deixa de ter sentido.

Para agravar ainda mais a dor desta mãe, boa parte das pessoas não é capaz de reconhecer este luto. Afinal, a lógica (de quem não sofreu isso na própria pele, vale ressaltar) é de que, se o bebê não nasceu, não existiu. Por isso muitas vezes a mãe é cobrada a superar a dor, virar a página, tentar de novo. Claro que ela quer tentar de novo, mas para isso terá que conseguir conviver com o

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