RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 3 | Page 8

Ser mãe de anjo é ter a roupinha de seu filho como seu bem mais precioso, não me diga que não me faz bem. É olhar uma criança e pensar como será que seu filho estaria. Ser mãe de anjo é passar o tempo a se equilibrar entre a realidade e os sonhos que não vão mais se realizar. Não, não vão! Não me diga que realizarei com outro filho, pois com outro filho eu realizarei outros sonhos, não os que foram sonhados para viver com ela!

Ser mãe de anjo é ter muitos amigos compreensivos e fiéis, é ter uma família que te entende e te apoia. Mas é também se surpreender com a atitude de alguns outros “amigos”. É ser obrigada a ouvir tremendas baboseiras de algumas pessoas e ter que ainda fazer o papel da compreensiva: “calma, a pessoa não sabe como agir!”, “Calma, a pessoa não sabe o que falar!” Então não fale! Abrace-me! Ser mãe de anjo é ter apoio de onde nunca imaginou, e de onde se esperava perceber que ele não veio! É perceber que é muito querida, que tem muita gente ao seu redor e ao mesmo tempo olhar ao redor algumas vezes e não ver ninguém! Ser mãe de anjo é se tornar chata com o tempo. É perceber que muita gente já não tem mais paciência em te ouvir, e pessoas que acham que 5/6 meses, 1 ano, 2 anos, já foi tempo suficiente para você parar de sofrer e se reerguer! Ser mãe de anjo é perceber o quanto a perda gestacional é um tabu, é perceber que muita gente ira te tratar como se você não tivesse perdido um filho, apenas será uma pessoa que não levou a gravidez até o fim (sim, pra muitas pessoas isso não é a mesma coisa!). Pelo menos, você nem conviveram. (Oi?). Não deu certo, tente de novo... como uma loteria, sabe?

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