RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 3 | Page 7

Ser Mãe de Anjo

Ser mãe de anjo é ser protagonista de uma história a qual você nunca imaginou viver. É ter que realmente virar atriz pra fazer esse papel, para conseguir dizer. “Sim, estou bem.”, enquanto existe uma navalha que te rasga por dentro. E a gente diz que está bem não porque quer enganar alguém, a gente diz que está bem por diversos outros motivos. Dizemos que estamos bem porque se dissermos, “Não, eu não estou bem!” Muitas vezes a outra pessoa não saberá como seguir a conversa, e nós sabemos disso, e compreendemos, ou não! Dizemos que estamos bem porque nós mesmas precisamos acreditar nisso. Dizemos que estamos bem, porque nem paramos para pensar antes de responder, porque se pararmos iremos despejar um caminhão de pensamentos e deixar transparecer um turbilhão de sentimentos que se passa no coração naquele momento e que algumas pessoas não seriam capazes de entender, ou simplesmente porque queremos poupar quem pergunta. Poupar de tentar entender, poupar a pessoa ficar de uma saia justa procurando uma frase pra dizer, para tentar dizer. Tentamos nos poupar de ouvir o que estamos cansadas de ouvir. Ou simplesmente dizemos que estamos bem porque fazia tempo que estávamos segurando uma lágrima e dizer naquele momento “Não, eu não estou bem!”, faria com que ela escorresse pelo rosto, e atrás dela todas as outras que ficam entaladas e começaríamos uma nova luta para fazer com que elas cessassem, para poder seguir em frente. Não, isso não é segurar o choro, eu choro quando posso! Isso é uma forma de reagir!

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