RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 2 | Page 14

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maneira, as frases de apoio que estamos lhe oferecendo. Se nos sentimos obrigados a consolar o amigo, e se aquilo que conseguimos pensar de melhor para lhe dizer não serve para satisfazê-lo, ficamos angustiados por ele ir embora sem termos cumprido nossa obrigação. É tão grande a cobrança que nos impomos de não deixar que o amigo fique sem consolo, que acabamos adotando uma saída pior: tentar convencê-lo de qualquer maneira que seu problema está resolvido, sem realmente estar.

Diante da teimosia de algumas pessoas que não desistiam de afirmar que dali em diante tudo voltaria a ser fácil, tranquilo, seguro e maravilhoso na minha vida, percebi que tentar levar qualquer esclarecimento para quem não estava disposto a conhecer a realidade do que eu tinha passado seria apenas uma atitude inconveniente e possivelmente interpretada como exagero. Só me restava, portanto, calar, fingir que as coisas haviam sido menores, como o outro queria acreditar que foram, e não incomodá-lo mais com os meus relatos. Tendo vivido na pele a sensação de quem precisa aceitar o consolo alheio, mesmo quando ele não ajuda, só para não afligir mais quem pretende lhe consolar, percebi que permitir ao outro o direito de ter um problema pendente de solução é uma atitude mais generosa do que forçá-lo a aceitar que seu problema acabou, porque isso significa, implicitamente, menosprezar a dificuldade que ele está vivendo, e considerá-lo um chato ao insistir que a solução que lhe foi apresentada não serviu. Penso que é preferível ouvir “Puxa, você parece estar enrascado mesmo, hein!”, do que o chavão “Fique calmo, isso não foi nada!”, quando a situação não for verdadeiramente nada, pois ao teimarmos em convencê-la de que a dificuldade dela não existe ou é menor do que relata, a única coisa que podemos causar com tal atitude é fazê-la se