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Assim, começava a contar a história inteira a quem dizia que em breve estaria novamente grávida, a fim de que fosse possível a meu interlocutor entender que uma nova gravidez não era nada trivial, como estava supondo. Alguns me ouviram até o final e então me senti acolhida. Porém, outras vezes percebi a resistência, da outra parte, em me deixar falar. Diversas vezes, notei que a pessoa não queria saber o que tinha acontecido. Frases prontas e comentários automáticos eram usados para me cortar e repelir o quadro que eu apresentava: “Imagina! Não fale assim. Você vai conseguir!” Ou então: “Ah, que isso! Vai dar tudo certo!” Sei que, na maioria dos casos, as pessoas que se comportam deste jeito estão apenas imbuídas de bons propósitos, querendo que a pessoa que acabou de viver um sofrimento volte a se sentir esperançosa. Entretanto, não foi este efeito agradável que tal comportamento causou em mim.
Acho muito louvável começar a conversa tentando encaminhá-la para um tom ameno e positivo. Mas, penso que essa postura só deve ser sustentada quando há cabimento para a alimentação da esperança. Senão, caso se pretenda sustentar a esperança a qualquer custo, até mesmo contrariando a sensatez, deixa de ser uma atitude otimista para se tornar uma ficção, que se quer impor que o outro acredite, para não precisar enfrentar um assunto dentro da verdadeira seriedade que ele exige. Passar por essa situação me mostrou o enorme tabu que existe em torno do gesto de consolação. Desde pequenininhos, somos ensinados pelos mais velhos que constitui um dever moral importantíssimo alentar o próximo que está vivendo uma dificuldade. Essa conduta ética se tornou algo tão forte em nosso relacionamento social, que ficamos praticamente incapazes de evitar o incômodo que sentimos quando não conseguimos aliviar a dor do semelhante. Por causa disso, queremos que aceite, de qualquer