RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 2 | Page 12

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As conversas que tive com quem me procurou a fim de prestar condolências me permitiram constatar que determinadas pessoas não conseguem compartilhar a dor alheia. O motivo pelo qual isso acontece não é por nenhuma falta de carinho por parte dessas pessoas, mas sua falta de condições para lidar com circunstâncias críticas. Alguns se aproximaram de mim com o desejo inicial de me transmitir entusiasmo, mas depois acabaram demonstrando que queriam usar uma fórmula de consolo, na qual não fosse preciso se contaminar com o sofrimento que atingiu o semelhante. Refletindo sobre as possíveis causas dessa constatação, percebi que a nossa cultura é a responsável por contribuir para a nossa incapacidade de lidar com a dor. Estamos imersos numa cultura que contaminou o conceito de sofrimento com uma conotação macabra. Levando a dor para o lado sombrio, perdemos o jeito de olhar o triste, duro e desagradável. Então, quando nos deparamos com eles, queremos sair correndo, não porque seja necessário, mas porque nos sentimos acuados diante de algo aparentemente assustador.

Nem todos sabiam exatamente o que havia acontecido comigo. Sabiam que meu filho tinha morrido pouco depois do parto, mas não tinham conhecimento de que eu tinha escapado da morte por muito pouco. Então, era natural que os recursos imaginativos das pessoas construíssem um cenário menos grave do que como as coisas realmente foram. Por essa razão, a maioria se dirigiu a mim depois, na tentativa de levar bons estímulos, afirmando que minha tristeza toda sumiria, assim que engravidasse de novo. Nas primeiras vezes em que ouvi essa afirmação, fui levada pelo impulso de esclarecer a pessoa sobre o seu engano. Queria que todos tivessem uma noção dos fatos condizente com o real.

A solidão de não se sentir compreendido