RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 2 | Page 15

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sentir solitária, por não encontrar compreensão. Mas, quem é capaz de ficar ao lado de uma pessoa, assumindo que não pode fazer nada para ajudá-la? Essa sensação de impotência nos incomoda tanto, que é muito mais provável que escolhamos fazer um bem a nós mesmos, do que fazer um bem ao outro. E o bem que vamos nos fazer, nesta hipótese, é nos livrarmos da sensação ruim de não termos conseguido ajudar. Logo, a chance de oferecermos à pessoa, expressões deste tipo como consolação é bem maior do que a chance de nos questionarmos sobre o que ela realmente está precisando ouvir.

Esse processo ocorre de forma tão inconsciente, que mesmo quando optamos por seguir o caminho do nosso próprio alívio, fazemos isso acreditando que aquela frase “Não se preocupe, vai ficar tudo bem!”, que lhe dissemos, foi expressada com o objetivo de levar o amigo a se sentir mais encorajado, e não para dissipar nosso transtorno. Porém, você só vai saber se essa frase foi um bem que quis fazer ao outro ou a si mesmo, se tentar perceber, sinceramente, como o outro se sentiu depois de escutá-la. Mesmo que o senso comum nos diga que nada pode ser mais conveniente a um desafortunado do que ouvir um consolo, podem existir situações em que se sintonizar com sua dor é a melhor coisa que se pode fazer por ele, pois algumas vezes, somente identificando que alguém está disposto a conhecer e partilhar da sua dor, é como o ser vai se sentir respeitado e acolhido.

Gostaria de deixar bem claro que não estou aconselhando ninguém a ficar chorando ao lado da outra pessoa, nem a ficar com a fisionomia fechada, toda vez que se aproximar dela. É possível sintonizar com a dor alheia sem precisar se deprimir, pois o objetivo não é fazer seu problema aumentar, mas apenas