RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 9

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outro, existem linhas de pensamento que são opostas à argumentação de Pinker. Como frisa Felipe Pacheco:

“Daniel Levitin (2011) contrapõe-se a Pinker no sentido de tentar provar que a música é na verdade um elemento essencial ao ser humano, pois pode ter sido anterior à própria linguagem. Ilari (2006) também destaca que, ao sugerir que a música é inútil do ponto de vista biológico e que se não existisse, nada se alteraria em nosso estilo de vida, Pinker realmente desconsidera a inegável importância da música enquanto elemento social e cultural, muito embora não negue que a música possa vir a ser um elemento evolutivo indireto (um subproduto). Considerando essa relevância social/cultural da música, bem como suas possíveis origens evolutivas e biológicas fundamentais ou parciais, verdadeiras, emerge o questionamento inicial de qual seria a importância de cada uma das duas premissas (natural e social) e qual o papel de cada uma delas no comportamento musical resultante em cada indivíduo” (Pacheco, 2013:269).

Diversas teses apontam no sentido da música ser um produto constante na vida humana, mesmo que revestido de formas bastante simples e arcaicas nos primórdios, evoluindo para a comunicação de massas e, não menos importante, para o fenómeno industrial e global onde hoje assenta. Por isto, a música é um objeto profundamente complexo que nos obrigaria a entrar em campos tão díspares como a estética, arqueologia, comunicação, sociologia, teoria cultural... e que, na realidade, não se apresenta como essencial explorar aqui mas, antes, partir da premissa que enquanto parte constituinte da vida humana, independentemente do espaço que possa ocupar na vivência de cada individuo ou grupo social, a música encontra-se transversalmente presente. Assim, é comum a música exprimir sentimentos, passando pelas diversas matizes dos mesmos, assumindo-se como um catalisador nas mais diversas situações do quotidiano. Não menos importante, é a busca conduzida pelos indivíduos na tentativa de comunicarem através da expressão musical, independentemente de se cingirem a uma resposta pessoal ou social mas, em última instância, a música oferece o espaço e/ou moldura que permite despertar ou transportar as emoções desejadas.

Não obstante tudo isto, existe uma temática que se apresenta como constante na música: o sofrimento , sobretudo descrevendo a perda de alguém ou algo. É, efetivamente, uma temática extremamente característica da expressão musical sobretudo, acreditamos, pela dificuldade que o ser humano tem em se expressar relativamente à dor provocada pela perda. Conquanto, a forma, o sentido e a profundidade com que os temas são abordados variam em cada caso, promovendo uma possibilidade de resposta diferenciada à busca dos indivíduos em cada momento . Senão vejamos alguns exemplos:

“I've hurt myself today

To see if I still feel

I focus on the pain

The only thing that's real

(…)

What have I become

My sweetest friend?

Everyone I know

Goes away in the end”

(Hurt, Johnny Cash)

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