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“Apesar de não se poder descrever um padrão único de reacção parental depois do nascimento de um bebé pré-termo, pois são vários os factores que o condicionam (personalidade, relação conjugal e familiar,
a morte é caracterizada por um processo de assimilação e luto profundamente desgastante e emocionalmente destrutivo:
“A reacção dos pais à morte de um filho é quase sempre catastrófica, pois mesmo que seja previsível, torna-se muito difícil conciliar as realidades opostas da gravidez, como processo de originar a vida, e da morte
Por outro lado, a sociedade “nega a perda perinatal devido ao forte impacto (negativo), que esta tem em cada um de nós. Quando ouvimos a palavra “perda” ou a palavra “luto”, fechamo-nos na nossa concha protectora e tornamo-nos menos disponíveis para o outro, para quem necessita realmente de desabafar” (Tavares, 2013:57), sendo que por isto, mas não exclusivamente, “o luto perinatal é ainda um assunto tabu, que é ignorado e desvalorizado pela nossa sociedade, devido ao impacto que tem em cada um, e que esta negação cultural da perda tem ainda um profundo impacto em quem a vivencia” (Tavares, 2013:56).
Por tudo isto, a nossa proposta é apresentar uma breve leitura do contexto cultural, utilizando a música como veículo, relativamente a duas questões fundamentais: 1) se dentro do contexto musical o sofrimento é abordado; 2) se a morte perinatal surge como tema e/ou inspiração nas composições musicais.
A música como expressão sociocultural do sofrimento
Em 1997, Steven Pinker publica o livro How the mind Works. Neste existe uma passagem que ao longo dos anos tem levantado controvérsia e, não obstante, contribuiu para aprofundar os estudos sobre música. Escreve o autor:
“No que se refere à causa e efeito biológicos, a música é inútil. Ela não aponta para um caminho que garanta objetivos como uma vida longa, a existência de netos, ou uma percepção e previsão exatas do mundo. Se comparada à Linguagem, visão, pensamento social, e conhecimento físico, a música poderia desaparecer de nossa espécie deixando o resto de nosso estilo de vida praticamente inalterado”. (Pinker, 2001:528).
Para este, a expressão musical não será mais que um artefacto acessório que, compreendido num complexo maior que será a vida como um todo, não é mais que uma parte sem que a música produza ou crie, por si só, condições específicas para a reprodução ou produção social. Se, por um lado, encontramos aqui uma visão bastante redutora do entendimento de música por