RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 40

espaço na vida do enlutado e a elaboração do luto continua através do tempo (FRANCO, 2012).

Neste modelo entende-se que existem momentos mais voltados para a restauração e outros mais voltados para a perda. Essas oscilações são saudáveis e necessárias durante o processo, onde ambos os polos completam a unidade chamada luto.

O conhecimento de que certas datas e eventos que poderão lembrar o enlutado sobre a pessoa que perdeu auxiliam no sentido de dar apoio a essa pessoa. É natural e esperado que essas lembranças ocorram por toda a vida, afinal a perda é para sempre. Ouvir uma música, o aniversário, o natal em família, são exemplos de momentos de lembrança para quem fica, e ter espaço para expressar os sentimentos é fundamental.

Luto não reconhecido/não franqueado

“A sociedade mede a dor pelo tamanho do caixão.”

(Sherokee Ilse, 1982)

O luto pode não ser reconhecido/franqueado pela própria pessoa ou pela sociedade por diversas razões. Reconhecer é admitir uma coisa como verdadeira, e, não fazê-lo, pode ocorrer por ignorância de sua existência, por ambiguidades existentes ou para se defender de uma emoção que ela provoca (CASELLATO, 2015).

O termo ‘luto não reconhecido’ foi cunhado por Doka (1989) e é utilizado quando há a experiência da perda, embora esta não seja admitida abertamente. Desta forma o luto não pode ser expresso ou socialmente suportado. O não reconhecimento pode acontecer quando a sociedade inibe o luto ao estabelecer normas (implícitas ou explicitas) sobre quando, quem, por quem, onde e como deve ser o luto. Neste sentido, quem foge a este padrão tem seu direito ao luto negado. Estas pessoas vivenciam um isolamento social e um silêncio tácito, tão danosos para sua elaboração.

Para Attig (2004) o não reconhecimento não é apenas uma indiferença aos esforços e experiências do enlutado, desconsiderando, desaprovando, desprezando e desencorajando seu processo, mas ativamente negativo ou destrutivo, envolvendo negação, interferência e imposição de uma sanção que invadem e deslegitimam o enlutado.

Em qualquer tipo de luto não franqueado, independente de sua motivação – relacionamento não valorizado, perda não reconhecida ou morte não ser aceita – há, em primeira instância, um fracasso na empatia, na capacidade de compreender e validar a experiência do outro.

Neimeyer e Jordan (2002) trazem quatro dimensões de fracasso da empatia

De self com self: nível mais individual. Falta de empatia do enlutado com ele próprio. Pode ocorrer de forma consciente ou não consciente.

De self com a família: quando membros do sistema familiar tentam controlar ou condenar reações do luto de outro.

De self com a comunidade estendida: diversidade e dinamismo da vida contemporânea influenciando no reconhecimento do luto.

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