RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 39

para o enlutado (ESSLINGER, 2012).

Para Parkes (1998) o luto complicado poderá ser definido de duas maneiras: como crônico, onde há presença de ansiedade, insônia e possibilidade de ocorrência de sintomas de identificação com o morto (por exemplo, ficar com sintomas de uma doença que o morto tinha) ou como luto inibido, onde os sintomas do luto normal não estão presentes, há uma negação, como se nada tivesse acontecido.

Alguns fatores de risco para o luto complicado são os fatores do próprio enlutado, como a idade, baixa autoestima, histórico de perdas anteriores e baixa resiliência . Os fatores relacionados ao tipo da morte, como as perdas inesperadas ou prematuras, as mortes violentas (suicídio ou assassinato) e desaparecimento do corpo podem ser complicadores na elaboração da perda. Há ainda, os fatores do tipo do relacionamento com o morto, como a perda de filhos, morte do cônjuge e relações ambivalentes (ESSLINGER, 2012).

Na perda gestacional e neonatal, foi verificado que o luto complicado pode chegar a 12,4% das mães, um percentual alto se comparado a outros tipos de luto, não havendo diferença significativa entre mães que perederam um filho recém nascido e até 1 ano de idade. Entretanto, a presença de outras crianças vivas parece proteger contra o desenvolvimento dos sintomas de luto complicado (McSPEDDEN ET AL, 2016).

Os fatores facilitadores da elaboração do luto dependem da clara possibilidade de expressão dos sentimentos, bem como ter sua dor reconhecida, validada. São de extrema importância os rituais (tanto individuais, familiares ou coletivos) e o compartilhamento da experiência, com apoio da rede social mais ampla, não somente no período imediato a perda. Os rituais facilitam a expressão do sofrimento, auxiliam na significação da perda e no apoio mútuo entre os enlutados, abrem um espaço para expressão de sentimentos como o choro e etc. Podem e devem ser individualizados, de maneira que cada um possa expressar seus sentimentos de forma singular (FRANCO, 2012). No processo do luto deverá ocorrer uma ressignificação, ou seja, uma construção de significado para a perda (ESSLINGER, 2012).

Existe, também, o luto não franqueado, aquele que não é validado socialmente, não autorizado. Esse é o caso, por exemplo, da perda do animal de estimação, do luto dos/das amantes, dos casais homossexuais, e outros, que não podem expressar seus sentimentos com relação à perda, o que pode gerar uma complicação nessa elaboração. Os profissionais de saúde também parecem não ter lugar para acolhimento de seus sentimentos com relação aos pacientes perdidos. Isso pode se dar devido ao fato da associação do sofrimento com a fraqueza e a incapacidade. Deve-se ficar atento quanto à equipe para que se possa expressar o luto, evitando, quem sabe, uma síndrome de Burnout (ESSLINGER, 2012).

O Modelo Dual do Luto, proposto por Schut e Strobe (1999, 2001) se refere ao fato de o enfrentamento e a elaboração do luto/construção de significados sofrer momentos de oscilação. Significa que não é algo linear nem simétrico; são momentos em que o enlutado está voltado para a perda e outros momentos em que está voltado para a restauração. Aos poucos outras coisas vão tendo

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