adequadamente o impacto da perda. As intervenções podem ser desde o fortalecimento da rede de apoio social até processos psicoterapêuticos de longo prazo. O luto é a expressão dos vínculos entre as pessoas e que, em última análise, tem suas raízes na infância.
Parkes (ibidem) afirma:
“O processo do luto é um caminho às vezes tortuoso, às vezes nítido da experiência de ter um vínculo emocional rompido por morte e as consequências dessa experiência, em âmbito somático, social, emocional e cultural. Varia do momento do ciclo vital no desenvolvimento do indivíduo, como da família, que também passa por constantes processos de transições nos quais as mudanças podem adquirir o caráter de uma perda.”
O luto pode ser considerado uma doença, mas pode trazer força. Pode ser como os ossos quebrados que se tornam mais fortes do que os não quebrados. O luto pode fortalecer e trazer maturidade àqueles que até então estiveram protegidos de desgraças. A dor do luto é tanto parte da vida quanto a alegria de viver; é, talvez, o preço que pagamos pelo amor, o custo do compromisso. Ignorar isto é uma tentativa de se cegar emocionalmente, fingindo e ficando despreparado para as perdas que certamente ocorrerão ao longo da vida. Lidar com isso nos ajuda, mas também é benéfico para que os outros consigam enfrentar suas próprias perdas.
Geoffrey Gorer (1965), em sua pesquisa sobre o luto e pesar na Inglaterra contemporânea diz: “o processo de luto é entendido como uma fraqueza, uma auto indulgência, um mal hábito repreensível, e não como uma necessidade psicológica”. Este pensamento tem raízes em nossa cultura e muito dificultam na elaboração da perda. É como uma não autorização para vivenciar a dor do luto, enxergando-o como sinônimo de fraqueza, algo que se deve evitar.
Ao longo da vida passamos por diversas mudanças: chegar, partir, crescer, decrescer, conquistar, fracassar, e tudo isso envolve uma perda e um ganho. Sempre é necessário abrir mão do velho ambiente para aceitar o novo, as coisas e pessoas vem e vão. Perde-se um emprego aqui, consegue-se outro ali; propriedades e bens são adquiridos e vendidos; aprendemos e abandonamos habilidades; esperanças são frustradas, enquanto expectativas são atingidas. Em todas estas situações há enfrentamento da necessidade de abrir mão de um modo de vida e a aceitar outro. Se identificar a mudança como um ganho aceita-la não será difícil, ao contrário, se é vista como uma perda ou uma “benção ambivalente”, fará de tudo para resistir à mudança. Isto – resistência à mudança – é para Parkes, a base do luto: a relutância em abrir mão de posses, pessoas, status e expectativas.
Houve um tempo em que o luto era classificado como normal ou patológico, o que hoje caiu por terra. O luto patológico implica em uma ideia de doença, medicalização e cristalização. A denominação que existe hoje é a de luto complicado, ou seja, algo que não é visto como uma doença, e que pode “descomplicar”. O que irá definir a “normalidade” do luto é a intensidade e a frequência com que alguns sintomas aparecem, muito mais do que os próprios sintomas e a sua duração. Também será importante perceber como “saudável” a possibilidade de realizar atividades significativas e prazerosas anteriores a perda
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