do meu marido e foi-me dito que era impossível levar a minha filha comigo, mas que conhecer, sim, seria possível. Embora me fosse também sugerido que não o fizesse, pois depois de um mês, ela devia estar em estado de decomposição e que eu não iria gostar de vê-la daquela forma.
Na verdade, não fiquei incomodada com aquele comentário e no dia seguinte voltei ao hospital. Para minha surpresa, a rececionista disse que estavam mesmo à minha espera. O senhor do dia anterior abordou-me e disse, com os olhos cheios de lágrimas “Oh menina! Eu não almocei, pensando em si. Em tantos anos de profissão, nunca vi nem ouvi, mãe nenhuma a implorar pelo filho. Eu consegui aquilo que pretende, fique tranquila, fique em paz!”
Eu não sabia o que dizer, só chorava de imaginar que poderia vê-la! O senhor continuou “Olhe, isto nunca aconteceu aqui neste hospital. Só quero que saiba que a sua filha deve ter muito orgulho em si por ser essa mãe. Ela está a quebrar o protocolo do hospital…”
Eu não falava, eu só chorava e abraçava aquela pessoa. As pessoas que estavam presentes também estavam nitidamente emocionadas. Penso que foi algo espiritual… conhecer a minha filha! Era um sentimento de medo e emoção, fiquei com as pernas a tremer. Só tinha medo de a ver em decomposição: mãe nenhuma quer ver o seu bebé naquele estado.
Ela estava linda, perfeita! Completamente perfeita! Parecia que tinha acabado de nascer. Eu não sabia que os bebés nesta idade gestacional já tinham feições, que já se pareciam com parentes: ela tinha os pezinhos parecidos com os da mamã, a boquinha era tão pequena como a do irmão, o nariz era semelhante ao do papá. E as unhas? Fiquei encantada com as unhas dela! Não sabia que já eram visíveis! Lindas e perfeitas! Fiquei a admira-la não sei por quanto tempo, não me chocava aquela imagem, ela parecia estar a dormir, parecia um anjinho. O que me chocava era aquele pote… Mas, eu esperava ver outra coisa e vi uma bebé à espera da sua mãe para lhe fazer o funeral… Sinto isto, se é loucura ou não, eu não sei, mas estava enraizado em mim…
Cheguei a casa… Achei melhor ela não conhecer os irmãos. Pensei que eles já se tinham conformado com o facto de a irmã ser uma estrela. Mas, conheceu a sua casa, o seu berço, as suas roupas. Conversou com o papá e eu tive um momento só nosso. O que eu tanto queria! Eu pude realmente despedir-me da minha filha, conversamos muito e cada vez que eu olhava para ela, só se enraizava em mim a tese de que ela estava à minha espera, à espera de um momento só nosso, só nós as duas… Questionei-a sobre qual o motivo dela ter partido e disse que mesmo não estando feliz, ela podia ir em paz. Sinto-me privilegiada por este momento juntas.
Não me importo que achem este ato mórbido, sei que precisava disto para continuar a minha vida. Penso que, se isto não tivesse acontecido, eu não estaria aqui a contar esta história, pois o pensamento de suicídio consumiu-me de tal forma que chegou a sufocar-me: estava convicta da certeza da minha morte.
Como ela não podia ser enterrada num cemitério normal, decidimos falar com os
32