RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 34

padrinhos dela. São pessoas a quem serei eternamente grata por nos terem ajudado nesse momento tão difícil para nós. A minha gratidão por eles é infinita, o que eles fizeram não tem preço: morreria e nasceria agradecendo e não seria suficiente.

O caixão foi feito por mim, com a ajuda de uma amiga. Foi muito complicado, eu nunca me imaginei a fazer uma coisa destas. Existiram momentos de emoção muito forte, pois eu queria deixar tudo à altura da minha pequena princesa. Queríamos proporcionar-lhe algo especial, digna dela.

Duas pessoas de autoridade espiritual não podiam ir onde ela seria sepultada, mas fizeram uma pequena cerimónia em casa. Foi muito importante para mim; eu queria aquilo para ela. A maior parte da família achava loucura e mórbido este ato. Chorei de alívio e de tristeza ao mesmo tempo mas sabia que ela estava melhor do que quando ela seria submetida ao seu fim, não tão digno.

Ela era tão perfeita! Tão grande! Como poderiam deixar a minha filha dissolver-se? A minha maior emoção foi poder segura-la, ainda sinto a temperatura fria do seu corpo como se estivesse agora mesmo a pegar nela. Pude ver cada detalhe das suas feições, tão linda, tão pequena, tão frágil. Fiquei encantada com a sua beleza, perfeição e serenidade. Por um momento pensei que ela estivesse a dormir. Foi muito duro segurá-la sem vida, mas sabia que se não a segurasse, me arrependeria depois. Era a minha única e última oportunidade. O meu marido beijou-a e então enterramo-la junto com um desenho que os irmãos fizeram de todos nós juntos e uma rosa bem cheirosa. Foi duro enterrar a nossa filha mas seria ainda mais duro deixa-la naquele terrível pote. Depois disto, eu não estou recuperada, mas a vontade de morrer passou completamente. Já não sinto a sua presença, mesmo quando aperta a saudade. Sinto alívio quando durmo mas penso que agora… Ela realmente se foi…

Anónima, 28 anos

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