Vi a minha filha, por dois segundos… Ela estava com a pele escura, com um aspeto diferente… A médica disse-me que era pelo tempo gestacional e por estar sem vida. O meu marido ficou na dúvida, se devia vê-la ou não… Acabou por vê-la, num saco como se a nossa pequenina fosse uma coisa… Eu só pensava “Como podem colocar um bebé num saco?”…
Sugeriram-me tomar banho e desmaiei. Eu tinha perdido muito sangue… Na verdade estava feliz, queria perder sangue a ponto de morrer junto com a minha filha. Deus me PERDOE!
Quando voltei a questionar sobre o funeral e a certidão, riram-se de mim e disseram que mais rápido ela se dissolveria do que eu conseguiria tira-la do hospital. Isto não saia da minha cabeça um só minuto.
Cheguei a casa, sem barriga, sem filha, com algum leite no peito sem ter a quem amamentar… E aí sim começou a minha dor. O sofrimento de perder um filho não era único. Existia também o sentimento de falta de amor e empatia das pessoas; elas procuravam entender o tamanho do sofrimento por um bebé que não nasceu, não compreendiam o meu desespero, pois afinal, eu já tinha dois filhos em casa, vivos e saudáveis. A falta de respostas para a morte dela, a angústia de saber que ela iria se dissolver como pó, que não teria dignidade alguma… Os pesadelos, a insónia e a falta de fome e de ânimo… Todos me diziam que era o luto… Que passaria… Mas, eu não conseguia sentir alegria, nem com o sorriso dos outros filhos, que estavam vivos. Passava 24 horas por dia, imaginando como ela seria, alisava a barriga pois esquecia-me que ela tinha morrido. Cheguei a pensar que ela estava realmente comigo… A angústia chegava e não conseguia segurar o grito de desespero! De repente, vinha uma calma, que eu sempre acreditei vir de Deus e sentia que era ela, a minha filha, a dar-me força!
Passou um mês da morte da minha menina e fui ao hospital buscar os exames histopatológicos, na esperança de saber o que teria acontecido com o corpo da minha bebé. Para minha surpresa, os exames ainda não estavam prontos mas a rececionista disse que alguém queria falar comigo. Esse alguém, era uma pessoa muito importante naquele hospital. Nunca entendi porque aquela pessoa quis falar comigo. Aproveitei e perguntei se a minha filha ainda se encontrava ali, ao que me responderam que ficaria ali por seis meses… E depois disso? Um olhar vazio e uma “dada de ombros” foi a resposta que obtive…
Chorei muito e implorei para que me deixassem leva-la e dar-lhe a dignidade que ela merecia! Aquela pessoa queria entender os meus motivos, tinha um olhar surpreso e num suspiro, confessou-me que nunca tinha visto algo assim na sua vida. Voltei a implorar para não deitarem a minha filha ao lixo, para me deixarem fazer-lhe um funeral, pedi que me ajudasse.
O senhor saiu da sala e passados 32 minutos cronometrados por mim, disse-me que entraria em contacto comigo no dia seguinte. Achei que ele estava a enganar-me, que queria despachar-me e comecei a gritar de dor e desespero. Dei-lhe o meu contacto e o
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