Também escutei algumas pessoas dizendo que minha dor era menor que a dos pais que perdem um filho mais velho, pois quando a criança tem mais idade, houve tempo de existir maior envolvimento com ela. Aquilo me machucou, porque nenhuma mãe gosta de ver seu sentimento desvalorizado, mesmo quando essa atitude seja feita com o propósito de lhe trazer consolo. Quando adotamos uma conduta com o objetivo de abrandar determinado episódio trágico, temos que tomar um cuidado enorme para não acabarmos deslizando para um aparente desprezo, pois a linha divisória entre a amenização e a banalização é muito tênue. Pessoas que querem confortar alguém devem se recordar disso, e pessoas que estão sendo confortadas também precisam manter esta recordação, a fim de evitar problemas.
Durante as conversas em que ouvi essa ponderação, abstive-me de retrucar, pois consegui perceber a verdadeira vontade do amigo ou da amiga de me confortar. Então, se replicasse, destruiria a sua boa intenção. Mas, mesmo não tendo rebatido o argumento, fiz minhas reflexões internas. Pensei que, embora um filho mais novo tenha convivido menos com a mãe, em compensação não lhe mostrou a pessoa que seria. A mãe que perde o filho mais tarde sabe o que está perdendo. E isso é uma dor muito grande. Mas uma mãe que perde o filho mais cedo, não sabe o que está perdendo. E não saber como seria o filho também constitui uma dor imensa.
24