solução para a dor dos pais de bebês e que devemos deixá-los chorando para sempre. Existe solução sim, da mesma forma que existe solução para a dor das pessoas que perdem filhos adultos, que perdem cônjuges, pais, irmãos, avós, ou qualquer outro ente querido. Só acho importante esclarecer que a solução para a dor dos pais de bebês que morreram não é a troca de um bebê por outro, da mesma forma que a solução para a dor de um filho não é a troca de sua mãe por outra.
A fim de deixar a ideia mais clara, vou apresentar um exemplo. Ao saber que um amigo ficou viúvo, nós sentiremos vontade de procurá-lo para transmitir nossos pêsames. Ficaremos ao seu lado dando força, mas acredito que nenhum de nós cogitará que esse amigo ficaria feliz de ouvir da nossa boca a seguinte frase: “Não fique triste, em breve você vai conhecer outra mulher maravilhosa e se casará de novo”. Por mais que nós tenhamos certeza de que, se o amigo é jovem, isso provavelmente vai acontecer, não é de bom tom fazer essa previsão do futuro, enquanto o amigo ainda está sentindo falta da mulher que tanta ama e acabou de falecer. Nós sabemos que o amigo não está triste porque ficou sem esposa. Ele está triste porque ficou sem aquela esposa. E, com certeza, o fato de o amigo ainda se encontrar no período do noivado, estar recém-casado ou já ter completado bodas de ouro, não vai mudar nossa atitude. Então, por que será que nós não agimos da mesma forma, com os pais que perderam um filho que ainda estava dentro do útero ou tinha acabado de nascer? Acho que esta pergunta nos fará refletir bastante e cada um deve procurar a sua resposta para concluir o que considera melhor fazer, nas próximas vezes em que uma pessoa que conhece perder um filho.
É importante esclarecer também que não quero, de jeito nenhum, deixar a impressão de que estou condenando todas as conversas relativas a novas concepções. Não penso que as pessoas devam ser proibidas de conversar com pais que perderam filhos sobre a possibilidade de eles terem mais filhos. Não se trata disso. Eu mesma não fiquei incomodada, sempre que alguém puxava esse assunto comigo, mas apenas quando percebia que o assunto tinha sido puxado com o objetivo de me calar, como se engravidar de novo fosse uma receita infalível para encerrar meu sofrimento.
Existe uma grande diferença entre falar sobre outra gravidez com o intuito de saber quais são os planos que o casal tem para o futuro, e falar sobre outra gravidez com o intuito de minimizar a dor. Para mim, não é desagradável falar sobre um eventual próximo filho, se meu interlocutor tratar o tema com naturalidade, dando o tratamento que deve ter, ou seja, como algo independente do episódio anterior. Falar sobre outra gravidez só me incomoda quando a pessoa, com quem estou conversando, se posiciona de forma a sugerir que o próximo filho vai substituir o que se foi. Nesse caso, é muito ofensivo perceber que o interlocutor acredita que outro ser humano (mesmo que também seja meu filho) possa ocupar o lugar do Igor na minha vida. Como mãe, consigo distinguir, pelo tom da conversa, qual é o objetivo das pessoas, quando elas falam sobre isso comigo. E se as pessoas falam sobre um próximo filho como alguém que poderá vir a trazer ainda mais amor e felicidade para o meu coração, sem tratá-lo como um substituto do irmão, não experimento qualquer incômodo.
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