RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 23

Toda Dor é Única e deve ser Respeitada

Quando meu filho morreu, a grande maioria das pessoas que desejavam me consolar, aproximavam-se de mim falando que em breve eu engravidaria novamente e teria outro bebê. E todas as vezes que escutava aquilo, sentia uma apunhalada no peito. Fiquei perplexa com a quantidade de pessoas que revelaram para mim a sua crença de que ter outro filho funciona como uma solução mágica para a dor. Como dezenas de pessoas me falaram a mesma coisa, cheguei a me perguntar se isso não seria a coisa certa a se dizer e, na verdade, eu é que era a errada de não gostar de ouvir. Mas, passados alguns meses, comecei a ter contato com outras mães que passaram pela perda gestacional ou neonatal e descobri que todas eram unânimes em dizer que também não gostavam de tal atitude.

Senti alívio por saber que não sou diferente das outras mães, mas também senti uma grande responsabilidade: despertou-se em mim o propósito de fazer uma campanha. Passei a me sentir no dever de contribuir para que passe a existir uma consciência coletiva sobre este assunto. Considero fundamental

que a sociedade se conscientize de que os filhos, para seus pais, possuem o mesmo valor, independentemente do fato de ainda estarem dentro do ventre, de serem recém-nascidos ou de terem conseguido viver dez, vinte ou oitenta anos.

Por que a idade seria um fator determinante para que os pais confiram mais ou menos valor a um filho? Se ninguém diria a uma mãe, durante o velório de seu filho de trinta anos: “Não fique triste, você vai ter outro”, isso também não deveria ser dito a quem perdeu um bebê. Antes de perder meu bebê, talvez eu não percebesse essa realidade, mas hoje não tenho mais a menor dúvida de que não há diferença nenhuma entre o amor por um filho de poucos ou muitos anos de vida. Negar reconhecimento a essa dor para quem passou menos tempo junto do filho é uma atitude que aumenta o sofrimento dos pais. Portanto, hoje me sinto em condições de afirmar, sem medo, que, se alguém tiver a intenção de consolar um pai ou uma mãe, nunca deverá falar que em breve a pessoa terá outro filho. Não importa a idade com que o filho morreu.

“Lamento muito”, ou “pode contar comigo para o que precisar”, são expressões maravilhosas. Sempre serão bem-vindas. Mas dizer que a pessoa vai ter outro filho é a pior coisa que pode ser feita, pois essa frase soa, para os pais, como um insulto à memória de quem partiu, na medida em que faz parecer que é possível realizar uma substituição, e isso definitivamente não acontece. Todos deveriam saber que quando uma mãe e um pai choram pela partida do filho, eles não estão chorando porque ficaram sem filho, mas porque ficaram sem aquele filho. Outro filho não vai resolver o seu problema, porque não será o mesmo.

Não gostaria que me entendessem mal. Não estou querendo defender, com o que acabei de expressar, que então não existe solução para a dor dos pais de bebês e que devemos deixá-los chorando para sempre. Existe solução sim, da mesma forma que existe

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