RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 12

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Conforme vimos analisando de um ponto de vista objectivo, as sensações que são vivenciadas pelos progenitores aquando do momento da perda não são restritos a uma fase específica do desenvolvimento do filho mas antes associadas ao novo ser do qual são responsáveis, por outras palavras, as alegrias e ansiedades são fruto do laço relacional com o novo ser que é construído muitas vezes mesmo antes da concepção física. Se a morte perinatal já não se apresenta envolta numa forma mítica, mesmo que mantenha uma formulação de tabu social como salienta Teixeira (2013), assumindo importância (quase exclusiva) para aqueles que se envolvem e ligam ao luto de forma pessoal. Não é um assunto abordado comummente, nem tratado pela sociedade do ponto de vista dos familiares. Sendo que, por norma, é apresentado despido de sentimentos pela mascara da tecnocracia dos números quando, efectivamente, estas perdas podem representar danos de médio/longo prazo irreparáveis na vida individual e familiar. Como refere Teixeira:

“Torna-se cada vez mais importante sensibilizar os profissionais de saúde para estas temáticas, de forma a tentar ao máximo proteger estes pais e estas famílias (…) Outro factor importante prende-se com a adequação da intervenção aos diferentes tipos de luto. Nas descrições de Maria, foi notória a distinção que esta faz entre perdas gestacionais e neonatais, em termos de sensações, vínculos estabelecidos, sofrimento e dor causados. Assim, a intervenção deve também ser distinta. Mas, acima de tudo, torna-se fundamental perceber o significado da perda para aquela pessoa em particular. Ou seja, apesar de se saber que a perda está associada aos vínculos, quando se intervém é necessário ter em conta o que significa aquela perda para aquela pessoa específica, que é constituída de vivências e experiências pessoais” (Teixeira, 2013:55-56)

Assim, e neste quadro geral, muito embora não possamos falar de uma determinada música que seja o retrato da angústia experimentada pela morte perinatal, podemos encontrar as sensações vivenciadas pelos progenitores noutros retratos musicais. Tendo por base a variedade de abordagens do sofrimento nas composições musicais, existe a possibilidade de se definirem pontes entre as vivencias individuais e assim encontrar algum conforto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PACHECO, F. (2013). O Processo de Emergência Musical: Um Estudo Sobre as Perspectivas Naturais e Sociais do Comportamento Musical. Porto Alegre: Anais - Simpósio de Estética e Filosofia da Música

PINKER, S. (2001). Como a Mente Funciona. São Paulo: Schwarcz

REMOALDO, P. (2005). Os Desafios da Saúde Materno-Infantil Portuguesa nos Inícios do Século XXI. Braga: Cadernos de Geográficos

TAVARES, A. (2013). Lutos Gestacional e Neonatal: Vivência Subjectiva Materna da Perda. ISPA - Instituto Universitário

Nicolau Duarte Roque, 30 anos

Sociólogo

Viseu (Portugal)