Revista TO-BE REVISTATOBE | Page 7

Como foi seu processo de aceitação e entendimento sobre quem você realmente é? Todo processo é bem difícil sabe, as pessoas ao seu redor são muito cruéis, elas te fazem mal, elas não entendem o que você está passando, elas te julgam, são preconceituosas, a minha fase de escola foi horrível. Se perguntar: ''você quer voltar?'' Não, não quero. Então minha aceitação foi bem complicada, assim por exemplo, com 14 anos já tinha certeza de quem eu era, mas eu no meu consciente não queria aceitar de fato que eu era, uma mulher trans, ''ele'' não queria aceitar, ''ele'' queria que eu continuasse tentando me encaixar naquela outra vida, naquela outra pessoa que nunca fui eu. Então é um processo longo e demorado porquê infelizmente aqui no Brasil a gente só pode começar a tomar os hormônios com 18 anos, porquê antes tem que ter autorização dos pais e sem a autorização você não pode ir ao endócrino, ao psicólogo, ao psiquiatra porquê tudo isso é interligado no hospital que a gente faz o acompanhamento pra quem quer alterar os documentos que é a identificação ou fazer a cirurgia de designação. Qual a sua reação a se ver pela primeira vez como mulher? A minha transição, eu lembro até hoje porquê vai fazer 2 que eu fiz a transição e eu vi uma reportagem da Caitlyn Jenner, então ela me im- pulsionou a começar minha transição porquê eu parei e pensei ''nossa uma pessoa de mais de 50 anos enfrentou a sociedade enfrentou tudo para assumir o gênero que ela é para começar a fazer a transição'', ai eu falei “vou começar a fazer a minha também”. Eu já estava estudando nessa época no co meço da minha faculdade, comecei indo aos poucos comecei usando uma blusinha e uma calça, comecei a trocar o tênis por uma sapatilha, usar uma maquiagem, um rímel, um batom e conforme eu pensei ''Por que eu estou indo tão devagar? Por que eu estou fazendo tão devagar usando só um pouco?'', então chegou um dia que eu falei ''Eu vou me maquiar, vou fazer meu cabelo, vou tirar todos os pelos do meu rosto, digamos, eu vou ”bem feminina'' entendeu? Eu fui com a roupa que queria, com salto, e eu fui para a faculdade e quando eu cheguei na faculdade todo mundo me olhando com a aquela cara de choque e surpresa que não acreditavam que eu ia ter coragem de fazer isso, até por que eu malhava, eu ia para a academia, eu estava tentando me encaixar no padrão de gênero masculino só que não deu mais e eu fui e dei a cara a tapa mesmo, entrei na faculdade, choquei todo mundo, choquei professor, choquei todo mundo lá. Apoio é tudo, às vezes você tem que encontrar apoio é de si mesmo sabe, tem que ser você para tudo, parece que você está carregando o mundo nas costas e é bem difícil. Fala um pouco sobre a aceitação da sua família em relação a sua transi- ção, como foi eles enten- deram? Então, a minha mãe não pegou a minha transição porquê ela morreu quando eu tinha 14 anos de idade e infelizmente ela morreu de câncer, então ela não pode ''pegar'' boa parte e meu pai não fala comigo e tem outros fatores por trás disso dele não fala comigo, mas ele é uma pessoa muito homofônica e transfó- bica, sabe? Ele é militar, ele realmente não aceita, não tenho contato nenhum com a minha família, não falo com ninguém da minha famí- lia. Eu moro sozinha com um amigo, desde janeiro e minha família para mim, eles nunca me deram suporte para nada, você escolhe quem é sua família, família tem vínculo de amor, carinho, são as pessoas que vão andar com você, que vão fazer parte da sua vida para sempre e a minha família é isso, se eu te falar que eu nem sei onde eles estão, eu realmente não sei. 7.