Revista TO-BE REVISTATOBE | Page 8

Você sente alguma dificuldade na hora de se relacionar com alguém? Sinto, eu comecei a lidar com a falta melhor agora, eu já não sinto à vontade de ter um homem ao meu lado, no caso ''eu sou Hétero’’, para ser feliz eu sei que eu posso ser feliz por mim mesma sozinha, não preciso não preciso de amor de um homem para ser feliz. Só eu me basto, já estou lidando com isso melhor. Eu tenho depressão, cuido dela e já tive momentos de tentar cometer suicídios por conta de todo preconceito você anda na rua e o homem mexe com você, da mesma forma que mexe com uma mulher cis mas parece que aumenta porquê eles sabem que você é uma mulher trans e existe aquela visão de que toda mulher trans é prostituta, que ela está ali para ''fazer ponto'', para fazer programa que pôde chegar nela e falar o que quer então eu ando muito fechada para relacionamento mas por que venhamos e convenhamos tá difícil encontrar um homem cis hétero legal para ter um relacionamento, muito difícil. Falando sobre sua conquista profissional que até saiu no jornal, ela foi uma grande conquista para toda a comunidade LGBTQ+, principalmente para todas as trans gênero, queria saber qual foi o maior desafio para você em relação a conquista de um cargo de estagiária na Defensoria Pública sabendo que é um órgão totalmente preconceituoso e opressor? Então, foi muito gratificante receber a ligação da Drª Leticia ela é uma pessoa que está sendo muito especial na minha vida. Ela que me procurou, ela estava procurando por uma estagiária que fosse mulher trans para poder trabalhar na Defensoria De Violência Doméstica e foi mais o menos assim: eu comecei o meu processo de retificação de documentos lá, elas descobriram que eu fazia estágio por conta daquele relatório da psicóloga e da assistente social, ela se interessou e perguntou se eu queria, eu disse que ''sim claro, que eu toparia’’, eu achei que isso nem ia rolar, até por que eu nunca tinha 8. trabalhado, nunca tinham me dado oportunidade de emprego. Esse estágio para mim foi uma comprovação de que eu posso, que eu posso conseguir tudo que eu quero e tudo que eu almeje, foi muito bom quando recebi a ligação para fazer a entrevista e trabalhar na Defensoria Pública, as pessoas são maravilhosas, as meninas são ótimas elas me receberam de braços abertos, eu nunca pensei que ia ser assim tão bem recebida desse jeito. Eu fiquei muito surpresa quando o jornal O Globo entrou em contato comigo para poder falar sobre isso, perguntaram se eu aceitava dar uma entrevista sobre, ai eu falei ''gente, como a Globo ficou sabendo disso, que eu sou a primeira estagiaria trans do Tribunal de Justiça?’’ Ao mesmo tempo que fiquei feliz eu parei e pensei ''Como é que pode eu ser a primeira, cadê as oportunidades para as outras meninas, porquê elas são tão legais, por quê que as pessoas são tão preconceituosas e fechadas?'' Em pleno 2017 você para e pensa, é surreal, eu ser a primeira a estagiar em um órgão público. As oportunidades deveriam ser iguais para todos, mas não é. E como ter várias pessoas trans ainda mais periféricas, que nem eu, isso aumenta muito. Essa oportunidade foi o primeiro passo da minha carreira profissional, foi o começo de tudo, ela foi o primordial na minha vida atualmente porquê assim, sem ela eu não teria renda, ela veio no melhor momento da minha vida, é um lugar bem heteronormativo mesmo não tendo espaço, é aquilo ali, é bem difícil você ver uma pessoa LGBTQ+ lá dentro, entendeu? É um lugar machista e todo mundo lá no Tribunal me trata bem, nunca fui destratada até agora e espero não ser né, e está indo tudo muito bem.