Revista Tecnicouro (maio/junho 2021) Ed. 324 - completa | Page 18

De acordo com o presidente da

Associação Brasileira das Indústrias de Calçados ( Abicalçados ), Haroldo Ferreira , a indústria calçadista nacional tem uma produtividade superior a dos seus principais concorrentes no mercado internacional , caso do Vietnã e da China ( no Brasil , a produtividade é 3.472 pares / ano por trabalhador , enquanto no Vietnã é 920 e na China 3.399 ), mas há necessidade de se oferecer ao empresário mais condições de investimento , o que só ocorrerá com uma reforma do Estado brasileiro , especialmente no que diz respeito à carga tributária e aos crescentes custos logísticos .
A falta dessa reforma é uma dificuldade adicional para a ampliação da automação , que é um processo contínuo e fundamental de melhoria da competitividade intramuros , e hoje avança mais lentamente no setor calçadista brasileiro do que em outras atividades , como a indústria automobilística , por ser esta uma atividade com muitos processos durante a produção . “ Atualmente praticamente todos os setores na linha de produção podem ser automatizados . A tecnologia está disponível , inclusive com fabricação nacional ”, comenta Haroldo , destacando que as áreas com ganhos mais relevantes com automação em termos de redução de custos e de agilidade na produção são corte e costura .
AUTOMAÇÃO LOGÍSTICA - Uma das áreas sensíveis das indústrias calçadistas é o de Logística . Em meados dos anos 2000 , o setor conheceu a metodologia de automação SOLA , uma espécie de guia para as empresas que desejam adotar melhorias com ganhos de produtividade e , consequentemente , de competitividade . Basta a empresa ter um sistema ERP e scanners para a leitura dos códigos de barras na linguagem global GS1 para que a troca de informações eletrônicas flua de maneira consistente entre todos que fazem parte da cadeia , desde o fornecedor de insumos e componentes até o varejo , para a entrega ao consumidor .
O conceito foi adotado por algumas empresas , mas , devido à piora significativa na capacidade de investimento por parte do setor calçadista , o seu avanço depende de uma saída para a crise provocada pelo Coronavírus e a retomada da economia , seguida pelo retorno dos investimentos em automação por parte das empresas . “ Durante o auge da pandemia , o setor chegou a registrar 30 % de uso da capacidade instalada . O quadro de demissões só não foi pior devido à MP 936 , que permitiu a suspensão temporária e redução de jornada durante o Estado de Calamidade . Não existia demanda e , consequentemente , não havia razão para manter a produção . Seja ela manual ou automatizada , muito menos capital para investir ”, frisa Haroldo .
Para entender melhor o panorama da automatização na indústria calçadista , algumas empresas de ponta foram convidadas a falarem sobre a sua situação com relação ao tema . Do segmento moda feminina , participou a Via Marte , do setor de calçados infantis , a participante foi a Klin , já a Marluvas é do nicho de calçados de segurança e proteção do trabalhador .
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Haroldo Ferreira , presidente da Abicalçados

Uma das empresas que participou do projeto SOLA foi a Via Marte . O gerente TI da empresa , Ivair Kautzmann conta que o SOLA em si não é um sistema , mas trata-se de um conjunto de boas práticas visando a acelerar e dar precisão às transações na cadeia . A empresa o adotou logo no surgimento do grupo de trabalho , ainda em 2002 , quando a metodologia tinha outro nome : GOL . “ O SOLA , que na época nasceu como Grupo de Otimização Logística ( GOL ), é um guia para implementação segura de identificação padronizada para ativos fixos ( GIAI ), locais ( GLN ), produtos ( GTIN ), seriais de produtos ( SGTIN ), seriais de unidades logísticas ( SSCC ) e layout de arquivos globais para troca de catálogo de produtos , pedidos , avisos de despacho e faturamento ”, define Ivair . A ideia é : o que um elo da cadeia faz pode e deve ser utilizado pelo próximo , e assim todos ganham .

Lembrando que vários departamentos da Via Marte se envolveram na absorção e aplicação desse conteúdo e , ao longo do tempo , a organização obteve depoimentos de fornecedores , transportadores e clientes , dando conta de que os resultados são efetivos , o gerente considera que falta encarar que cada empresa precisa , primeiro , fazer o seu tema de casa , que começa com a adoção , visando à organização interna , e o efeito da maximização dos ganhos na cadeia será consequência . “ Não adianta começar cobrando dos outros , comece em casa . Veja , por exemplo , o salto recorde de 2020 no comércio eletrônico , que é consequência direta da pandemia , B2B ou B2C . Nosso foco precisa estar na mitigação dos erros e consequente na aceleração da cadeia , seja na garantia do volume entregue pela indústria para o e-commerce , seja na operação do comércio eletrônico para a entrega correta ao consumidor final ”, considera Ivair . A modernização do parque fabril da Via Marte contempla desde
18 • maio | junho