JANELAS QUEBRADAS
COMO A CIDADE DE NOVA YORK VENCEU A
CRIMINALIDADE
EX-OFICIAL DE POLÍCIA E ATUAL CONSULTOR DE SEGURANÇA, ANTONIO ALFONSO
FALOU SOBRE A TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS, QUE REVOLUCIONOU
A SEGURANÇA NOVA-IORQUINA
Quem assistiu filmes clássicos das
décadas de 1970 e 1980, como Taxi
Driver, The Warriors ou Forte Apa-
che no Bronx, guarda na memória a
imagem de uma Nova York caótica,
suja e dominada por gangues de tra-
ficantes. Mas uma profunda transfor-
mação, iniciada há 20 anos, colocou
a cidade como uma das capitais
mais seguras dos Estados Unidos. O
instrutor de segurança e empresário
Antonio Alfonso, oficial aposentado
do Departamento de Polícia de Nova
York, trouxe ao Enesp Sudeste um
pouco da experiência que ele viveu e
participou intensamente no NYPD.
Alfonso frisou, em sua palestra, que
o sucesso empreendido na segurança
pública em Nova York costuma ser
atribuído, erroneamente, à política co-
nhecida como tolerância zero, um tipo
de policiamento que reforça a aplica-
ção da lei para crimes pequenos e gra-
ves sem exceção. “Na verdade, Nova
York aplicou técnicas de tolerância
zero e, em determinados momentos,
empregou algumas partes de tolerância
zero”, explicou o ex-policial.
Aposentado da força policial em
2004, após 22 anos de trabalho, Alfon-
so estava em plena atividade quando
o prefeito Rudolph Giuliani escolheu
como novo chefe de polícia William
Bratton, em 1990. Vindo de Chicago,
ele teve a missão de transformar o pa-
norama insustentável em que a cidade
se encontrava, e conseguiu.
Estatísticas coletadas pelo FBI
sobre a criminalidade atestam a
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Revista SESVESP
Antonio Alfonso, explica modelo de sucesso norte-americano.
mudança. Em 1928, ano oficial da
instituição da Polícia de Nova York,
foram registrados 404 homicídios. Já
em 1990, quando o processo de mu-
dança engatinhava, ocorreram 2.246
assassinatos, um recorde histórico. O
número mais recente, de 2018, aponta
para 289 homicídios, uma taxa infe-
rior ao primeiro registro.
“Nos anos 1980, eu morava no
Bronx, que estava literalmente em cha-
mas. Lembro-me de sentir muito cheiro
de fumaça quando era criança. Era mais
fácil incendiar prédios deteriorados e
receber o dinheiro do seguro do que
reparar os edifícios”, ressaltou Alfonso.
JANELAS QUEBRADAS
As mudanças implantadas na
cidade utilizaram como referência a
teoria das Janelas Quebras, desen-
volvida pelo cientista Philip Zim-
bardo e posteriormente aprofundada
por outros pesquisadores. Em 1969,
Zimbardo realizou uma experiên-
cia singular, na qual utilizou dois
carros, ambos sem as placas, para
indicar que estavam abandonados.
O primeiro foi estacionado no
Bronx, bairro onde predominava a
violência e o vandalismo, naquela
época. Em menos de dez minutos, o
veículo foi vandalizado.
Outro carro teve como destino
uma rua em Palo Alto, California
– uma pequena cidade, com popula-
ção de renda elevada e baixa crimi-
nalidade. O carro ficou intacto ao
longo de sete dias, sem ser tocado
por ninguém. Daí surgiu a ideia