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Cachos de fogo
Felipe Pinto Santos
Foi em uma manhã de terça-feira que tudo que havia em mim estava prestes a virar
pólvora. Pólvora que não se transformaria em fogo por qualquer fósforo.
Ao chegar naquela sala, tudo estava frio, até que eu olhei em seus olhos. Tudo que eu
estava vendo me fazia lacrimejar, menos o tom da sua pele. Jamais imaginei que iria ficar
atraído por um pálido com tanta facilidade.
O medo me prendia e não permitia te admirar o tanto quanto queria. Seu olhar negro foi
a melhor paisagem que eu já vi em toda minha vida.
Não imaginaria que depois de cinco meses estaríamos juntos, em nossa mente, sozinhos,
conectados pelo calor que ali estava presente. Naquela tarde, imaginei tão profundamente
o seu toque, que cheguei a sentir suas mãos sobre mim, mesmo estando a mais de dois
metros de distância.
Já estava sentindo sua mão sobre minha perna, mas infelizmente a luz foi acesa e
anunciaram o final de mais uma aula. Não havia chovido, mas eu nunca estive tão
molhado.
Ao me levantar, você estava na minha frente, pronto para me dar um quente abraço. Senti
todo o seu corpo me queimar. Toquei seus cabelos e senti seus cachos virar chamas. Já
tinha te tocado algumas vezes, mas nunca te senti tão firme quanto naquela tarde.
Sobramos apenas nós dois entre aquelas quatro paredes e então decidi me despedir. Já
estava passando pela porta, quando senti sua mão sobre meu ombro. Puxou-me com força
e me presenteou com o melhor beijo da minha vida; o mais quente, o mais carinhoso e,
ao mesmo tempo, o mais agressivo.
Senti você passando suas mãos lentamente sobre minhas costas e, quando me direcionei
ao seu fósforo, senti sua lágrima na minha mão pela primeira vez.
Cheguei em casa por volta das 23h. Sou muito grato por esse dia. Foi com certeza o dia
em que mais aprendi nessa vida.
Obrigado, Professor!
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